No navio vou para longe e peço para não ficar longe do mar. Engano a fome que levo no balanço e nas vistas que tenho da vigia.
Quando subo à coberta ou ao convés cheira-me a carvão e vejo outras vidas. Tenho medo de cair ao mar. No navio vou para longe e peço a Deus para não ficar no mar.
À noite faz frio e curvo-me abraçado às almofadas. Choro baixinho, porque vou para longe. Choro baixinho, porque já sou um homem e tenho medo do mar. Tenho frio e penso como seria bom ter a qui um gato para nele me enroscar.
No navio vou para tão longe, cruzo todo um azul ondulante, que dum lado e doutro nada há mais do que água. Embora com tanta gente vai aqui tamanha solidão. É tão pequeno este grande navio com suas chaminés a fumar carvão. Balança a estibordo, balança a ré, dá de bombordo e cai de proa. Que enfado tenho sempre na barriga... e é grande a sede de terra. Que Deus me ponha lá já que não fui feito para o mar.
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