Dizem que me porto mal quando vou à adega. Porto-me mal porque sou mau e o vinho faz apenas sair o que em mim há que quer sair e não deixo. Se me conhecessem sabiam que a culpa não é do vinho é minha. Estou sempre no mesmo sítio.
Estou sentado no mesmo banco de jardim onde nos conhecemos. Estou sentado no mesmo banco de jardim onde sempre espero apaixonar-me. Onde nunca me apaixono. A culpa não é do vinho, é minha.
Sou um mau rapaz e tento deixar de ser. Se conseguir dou uma prenda a alguém e pode ser que desista de não me apaixonar. Estrago sempre tudo e a culpa não é do vinho.
Não sou Baco. Ele é meu amigo quando é. Traz-me fruta doce. Pintou-o Caravaggio e é assim que me lembro dele, pacato e não ébrio. Como se vê, a culpa não é do vinho. Baco nem está a beber.
Estou no mesmo sítio, onde talvez nos tenhamos conhecido, à espera de me apaixonar, a desejar desejar e a rezar para ver umas pernas bonitas e uns seios do tamanho das minhas mãos. Para sonhar e voltar a sofrer. Estou no mesmo sítio, sentado sozinho à espera que alguém se sente ao meu lado ou que Morfeu me toque ou que Baco me convoque. A culpa não é do vinho se não sou um bom rapaz.
Estou no mesmo sítio onde nos sentámos de mão dada. Onde me sentei com a outra. Onde me sentei com as outras. Onde me sentei à chuva. Onde me sentei sozinho. Estou no mesmo sítio, mas tento ser um bom rapaz. Juro que tento. Não toco nos pêssegos, toco nas uvas, mas se não sou a culpa não é do vinho nem da adega nem da companhia. O mal, se o houver, está em mim. A culpa dos meus erros é minha. Estou no mesmo sítio à espera de desejar e de não mais me apaixonar.
1 comentário:
VIVA VIVA VIVA 3 VIVAS AO BACO!
Enviar um comentário