digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, abril 04, 2006

Navio fantasma

O navio fantasma não precisa de ninguém, nem sequer precisa de vento. Só precisa da neblina e do mar chão. Precisa do medo. Precisa do medo. Precisa de ajuda.
O navio fantasma tem madeira que range. Tem madeira de espectro e madeira madeira. Tem cheiro a mortos e a salmoura. Tem velame enfunado quando não corre brisa. Tem velame que range. Tem cordame que range. Tem cordame podre.
O navio fantasma não precisa de ninguém. Morreram todos. De morte matada. De tiros, de peste, sem dentes, de fome, afogados, perdidos, de sede, de tudo, por nada, de ganância. O navio fantasma não precisa de ninguém. Precisa de ajuda. Precisa do medo. Precisa que tremam as carnes e gaguejem as vozes. Precisa do nevoeiro, da bruma e do mar chão. Precisa do mito.
A madeira range de podre e salmoura. Range o velame e o cordame. Já se foi a bandeira e a flamula. Ninguém sabe quem é, só que é fantasma.

1 comentário:

Anónimo disse...

Desconfio que conheço bem este navio fantasma...