Eu era o menino-Rei da minha mãe. Era o peso do meu pai. Era o reizinho da minha tia. Era o encanto dos meus tios, tias e manos. Era esquecido por quase todos. Eu era o Santo que punham nos altares. Eu era o Santo a quem se esqueciam de rezar. Eu era o menino-Rei da minha mãe e o tesouro da minha avó e o sorriso da outra, da que não me lembro. Era o menino-Rei de todos. Era Rei e esquecido por quase todos.
Como um pequeno César vivi esquecido e abandonado num palácio entre os brinquedos e as riquezas. Entre os abraços e as lágrimas da mãe. Entre a ausência e o peso do pai. Só e só com a protecção da forte avó frágil. Eu era o menino-Rei. Entre os gestos fidalgos e os gritos da plebe enlouquecida. Eu era o menino-Rei a crescer com disciplina férrea... a enferrujar e a quebrar.
Hoje sou um menino grande doente e confuso. Hoje choro por muitas coisas e lamento ter sido um menino-Rei e um peso, posto num altar onde ninguém rezava. Espero que não se lembrem de mim e, sobretudo, rezo para não se lembrarem de mim como o menino-Rei.
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