
Ainda não era aquela hora que se faz de todos os minutos acontecidos, mas aconteceu num repente não programado. Os dois pegamo-nos nas mãos sem saber qual deles pegou primeiro e sem suspeitar da aproximação lenta e ingénua dos lábios. Aconteceu o momento há tanto tempo previsto e desmentido. Os dois sabiamos e negavamos. Antes de rirmos chorámos.
Ainda não era aquela hora e não tinhamos os nomes desejados no outro. Ela não era quem eu queria e eu fora rejeitado. Mas não aconteceu no momento há tanto tempo previsto, na hora acontecida, antes do momento previsto.
Não era noite nem dia, mas um momento de pausas. Os olhos pegaram-se nos olhos, numa fundura de almas e espelharam-se uns nos outros nos lagos de lágrimas negadas. As bocas negaram-se ainda mais vezes, mas o momento de pausa foi momento de acção, porque as mãos deram-se sem nenhuma se dar primeiro. Naquele minuto de instantes feito de coisa nenhuma e de vulgaridade silenciosa. Ninguém previu o instante. Aquela foi a hora há tanto tempo esperada com quem nenhum dos dois esperava. As bocas negaram-se ainda mais vezes, mas os beijos já não se puderam adiar, estavam presos nos olhos comovidos. Ainda não era aquela hora que se cria, mas a hora que se quisera. Acontecera por fim num desterro de tempo, numa solidão a dois com lagos nos olhos e silêncio nas vozes. Aconteceu antes de ser aquela hora. Foi na hora daquelas duas almas.
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