Vi um gato azul a uma janela. Tinha um ar triste e um pelo feliz. Estava numa janela triste duma casa azul. O bichano dava ao rabo, inquieto, dizendo com o corpo o seu incómodo. Estava do lado de fora da janela e devia ter medo de descer. Não estava muito alto, mas tinha medo. Estava inquieto e talvez tivesse frio. Frio de afectos, provavelmente.
Vi um gato azul numa janela e tive vontade de lhe pegar, porque tinha os olhos tristes e os bigodes virados para o chão. Estava fechado na rua, na borda estreita do beiral duma janela fechada. Ele tão azul e tão macio, junto à parede áspera e azul da casa que o expulsou. Tive vontade de lhe pegar ao colo. Ele saltou-me para cima com aqueles olhos grandes que nos gatos têm e ronronou como só eles sabem quando estão carentes.
As pessoas não muito diferentes, mas mentem. As pessoas não são azuis nem se deixam ficar na beirinha duma janela à espera de colo. Vi um gato azul à janela e fiquei com vontade de ficar com ele, mas ele pertence àquela janela fechada e ao seu beiral donde tem medo de descer.
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