digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, abril 12, 2006

A feiticeira

Conheço uma feiticeira a quem não ouso chamar bruxa. Ela conhece muitas poções, muitas delas feitas por sábios alquimistas. Ela dá-me muitas lições sempre que vou à gruta onde está.
Ela está numa gruta à beira da luz, numa gruta pequenina, onde o Sol entra mansinho. Ela brilha com sorriso e olhos, tão mansinhos como o Sol que lhe entra pela gruta. Não ouso chamar-lhe bruxa, mas apenas feiticeira.
Não é bruxa porque não tem gato, não voa numa vassoira e julgo que nem faz poções. Conhece muitas, é certo, mas sempre feitas por outros. É brincalhona como um duende e dá bicadas como um corvo, mas não ouso chamar-lhe bruxa, apenas feiticeira, porque sabe de poções.
Na pequena gruta onde está brinca e dá conselhos, sabe de cor os sabores e só diz coisas de prazeres. Não faz coisas com maldade, só poções de prazer, feitas por mestres alquimistas. Às vezes dá-me ralhetes quando dou minhas sentenças àcerca das beberagens. Quem me manda a mim falar do que não sei? Ela que já provou de quase tudo e tem nos lábios tantas memórias... e é filha de mestre sabichão, homem com muito para contar, de quem herdou simpatias. Na gruta da feiticeira há uma outra, sua tia, mais sisuda na fala, mas é mulher de ciência nas poções, que sabe ainda espalhar azeite no chão para afugentar maus espíritos.
Chamo-lhe feiticeira - à mocinha - e só por brincadeira lhe chamaria bruxa apenas para a ver de vassoira na mão, brandindo-a para me alvejar. Chamo-lhe feiticeira por brincadeira, mas gosto de a ouvir falar dos seus saberes de poções. Tem muitas memórias e é tão mocinha ainda, com seu sorriso mansinho.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não conheço tudo. Já o velho sábio dizia ´"Só sei que nada sei." Através da maiêutica, este grande filósofo fazia-nos sonhar, embora de forma existencialista, acerca de tudo o que os anos nos tinham trazido de aprendizagem.
Mesmo assim não preciso dele para saber que nada sei, porque se soubesse, o que estaria eu aqui a fazer? Seria apensa um ser a deambular, sem nada para poder interagir. De feiticeira nada tenho. Gosto do que gosto. Gosto da busca, gosto do saber. Gosto dos prazeres que a vida nos permite porque há tantos outros que ela nem nos deixa tocar... O vinho é um deles mas num manancial de néctares quem pode afirmar que sabe tudo? Dizer que sabe muito já é de uma imodéstia desmesurada. Naõ vou tentar aqui debelar tudo o que o JB escreveu, mas que foi gentil, foi! Obrigada por me mostrares mais um lado da vida, possibilitar-me ver o que está (ou não!) por detrás das agressões (ou não!) verbais.