Não tenho coração, tenho uma romã. Se mo abrirem não vão encontrar sentimentos, mas fibra e alguma doçura. Em vez de sangue, haverá sumo. Mas tudo o resto será também vermelho.
Não tenho coração, tenho uma romã. Por isso não me apaixono e só me comovo com coisas simples. Saboreio uma laranja e sou feliz. Não compreendo o mundo e basta-me a chuva para ter do que falar durante uma semana. Emociono-me com o vento.
O meu coração não bate, descasca-se. É difícil e trabalhoso. Esperar dele um afecto é pura perda de tempo. Não posso dar sangue. Não tenho. Não prometo amor e desconheço o ódio.
Já tive um coração, mas não me servia para nada e ainda poderia criar-me um enfarte e matar-me. Troquei-o por um fruto, porque quando cair de maduro dará a nascer uma árvore, ou mais, e esta mais frutos, até todo o meu peito, até todo eu, ser um pomar. Em vez de um coração que me possa matar de enfarte ou de desgosto, tenho um fruto para me imortalizar loução.
Não dou beijos, porque quando troquei o coração por um fruto deixei de compreender a sua função. Se me abrirem o peito não morro e posso até semear-me fora de mim. Posso dar-me além de mim, porque não tenho um coração, tenho uma romã.
3 comentários:
E que boa romã tu tens. Cheia de suminho docinho docinho!!! Tipo Kunami...No fim de semana passado, pela 1ª. vez comi doce de romã e digo-te que é soberbo!
ai que até me doi o cora... aquilo que não tenho... ai que me doi a romã.
Oh romãzinha, truz truz! Eu encontro aí afectos. Será que vão nascer árvores afectuosas? :)
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