digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, abril 10, 2006

Cais de embarque

Espero-te. Espero-te há tanto tempo que já nem espero, estou. Faço a minha vida sem esperança de te ver chegar. Ausento-me ainda assim por tempo mínimo, não vás tu chegar.
Olho para as multidões que desembarcam, fito todos os rostos, pode ser um deles o teu. Todos os dias, do primeiro ao último comboio. Em todos os cais de todas as plataformas da mesma estação central.
Espero-te há tanto tempo que já me esqueci que espero. Esta é a minha vida. Faço-a sem esperança de te ver chegar, mas não desfaço a vida que só sei levar.
Um dia chegarás, mesmo que não seja para o meu encontro. Já não terei as flores do primeiro dia. Nem as do segundo, nem as do terceiro... nem as que levei todos os dias até ao dia em que perdi a esperança de te ver chegar. Nunca mais telefonei para os hospitais, nem para a polícia nem para as outras estações... nem fui ver se te via à procura de bagagem nos perdidos e achados. Hoje só espero por ti não esperando por ninguém.
Espero-te há tanto tempo que nem espero. Espero-te no tempo vazio e busco-te na multidão. Sigo-te em todos os olhos e nos passos atrasados. Sei que não vens, mas espero por ti na mesma estação. Todos os dias, do primeiro ao último comboio. Não me cansei de esperar. Aprendi a viver.

4 comentários:

Ana Fonseca disse...

Conheço bem essa sensação da espera que deixou de o ser... É já um modo de estar e de viver... Diz-se que se espera já sem esperança e sem esperar! Também vivo numa espera dessas! Boa sorte... para ambos!

João Barbosa disse...

É apenas uma fantasia...

Ana Fonseca disse...

Ou não... As fantasias de uns podem ser realidades de outros! Essa tua fantasia guarda verdades minhas! Verdades que tento esquecer, mas contiuo a olhar os comboios! E ja não tenho flores frescas!

João Barbosa disse...

Só por causa disso vou escrever-te um texto