digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, abril 08, 2006

A ausência

Se calhar vou ficar ausente. Se calhar vou ficar ausente por estar taciturno e soturno. Se calhar acham estranho andar metido para dentro, com os olhos voltados para as entranhas, e querem pôr-me dentro duma gaiola com janelas.
Não é a primeira vez. Já me perguntaram antes se não queria tirar umas férias, ir repousar, porque estou cansado e fatigado. Mas da única coisa que estou cansado e fatigado é da vida. Repetem a pergunta e depois percebo que era um eufemismo: querem internar-me.
Querem internar-me... a mim que gosto de andar a pé, de apanhar Sol na cara, de sentir a chuva no corpo, de caminar contra o vento, de andar até me sentir cansado... internar-me? A mim?
Se calhar vou ficar ausente porque estou cansado da vida. Não sei se tire férias, se me interne ou se me mate... ou se deixe tudo tal como está.
Para mim as enfermarias são salões muito comprimos e brancos, revistidas de azulejos onde reina uma alternância de silêncio e de gritaria. Eu só quero uma janela sobre a minha cama e um jarro de água à cabeceira, mais um jardim de palmeiras e uma sombra onde não oiça ninguém.
Se ficar ausente não sei se não enlouqueça. Prometo a mim mesmo emaluquecer para não me matar. As enfermarias têm de ser frias e revestidas de azulejos. Quero um jarro de água ao pé da cama e uma janela. Se calhar vou ficar ausente. Vou ter saudades das gatas e das letras. No espaço de tempo vazio espero que haja vento e espaço para poder fingir que caminho. Espero que o Sol bata com força e que me deixem apanhar chuva à vontade.

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