Tédio-maquinal-diário-à-pressa que, por vezes, na quietude dá tesão.
a mim ninguém me fotocopia!
digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.
Este não é o dicionário dadaísta nem o não-cachimbo de Magritte. É uma reunião de impressões, com razão e critério, sem qualquer prazo de validade. As entradas vão do óbvio ao desconcertante.
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O infotocopiável fará 20 anos, se eu lá chegar, a 24 de Março de 2026. Ainda que possa não conseguir viver tanto ou me falhe a capacidade, física ou mental, alcançar, para já, quase duas décadas, é um feito raro na blogosfera.
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Quando o comecei disseram-me:
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– Também tens um blogue?
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Vaticinaram que seria breve, desvalorizaram a capacidade mental, porque é pura psicologia, de manter vivo um caderno de pensamento e, neste caso específico, também pictórico. A blogosfera encolheu muitíssimo, mas o infotocopiável resiste. Embora se verifique uma grande redução de novos textos, nunca foi abandonado nem tal me passou pela cabeça.
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O infotocopiável nasceu tosco, impreciso quanto aos temas e, por isso, diverso. Não me envergonho, naturalmente não escondo, porque este género de sítios deve ser verdadeiramente um caderno onde se testam ideias.
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Começou como um local de alguma intimidade, exposição de interesses e pequenos agradecimentos. Evoluiu para um caderno onde a temática do amor foi o local central, posteriormente, quase imediatamente, ligou-se ao estado psicológico – não necessariamente de desabafo, mas pensamento sobre os problemas. Assim, rapidamente se juntaram as questões afectivas e as dores existenciais. De qualquer modo, nunca pretendeu ser, e penso que foi conseguido, uma montra do relicário íntimo.
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Naturalmente, alguns textos cruzam temáticas. Por exemplo, uma composição de amor pode ser, simultaneamente, de cariz psicológico. Por isso, a contabilização apresentada no índice é enganadora. A gaveta mental é a maior em número de textos, seguindo-se a do coração – 2.155 e 1.368, respectivamente.
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Sou autor da maioria dos textos. No entanto, pontualmente publiquei textos escritos a quatro mãos e um doutra pessoa. Paralelamente, alguns textos foram inspirados em trabalhos doutros escritores, podendo até ser quase citações.
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O blogue permitiu-me desmentir factualmente duas professoras que, claramente, me avaliaram muito mal. Enquanto arrumava os papéis dos meus pais, encontrei fichas de avaliação do período do ensino preparatório. Foi-me diagnosticada falta de imaginação nas disciplinas de português e de educação visual. Quem me conhece sabe que imaginação não me falta. Para quem me desconhece refiro que o infotocopiável atingiu 3.884 textos no final de Julho de 2025 – em contas arredondadas dá quase 200 textos por ano. Se forem contabilizadas as publicações de apenas imagem, cuja produção implica concepção, pesquisa e escolha, o total passa para 4.575.
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A imagem é a outra componente do infotocopiável. Naturalmente, o critério das escolhas evoluiu, assim como a exigência da procura do material. Cedo assumi o compromisso de evitar três situações: o óbvio, a ilustração do texto e a legenda da representação. Contudo, conscientemente abri excepções.
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Portanto, o infotocopiável vive da conjugação do texto e da imagem, sem que uma componente se torne impositiva. Todavia, sendo eu escritor e autor dos textos, a literatura é a essência do blogue. Não escolhi as imagens pela beleza ou pelo carácter de documento. O critério foi sempre a dupla leitura. Tenho cuidado semelhante relativamente aos títulos, que nem sempre têm uma sintonia óbvia. Uma vez que sou igualmente artista, apresento algumas das minhas obras.
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Não recorri a uma arte em específico: desenho e pintura, fotografia, vídeo, luz e escultura. Obviamente, a tridimensionalidade é impossível num blogue – pelo menos no estado actual da tecnologia. Assim, objecto, luz e instalação – além das artes performativas – apresentam-se em imagem documental, porque não há outro modo do conseguir.
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A periodização histórica, da imagem, é irrelevante, expectuando quando o conteúdo do texto o exige, da pré-história às produções contemporâneas. Na procura de evitar o óbvio, ilustração e legenda, não me limitei ao gosto pessoal. Esse esforço é comprovável na escolha do grotesco Greco e do piroso Renoir – possivelmente os artistas plásticos que mais abomino.
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Outro aspecto relevante, um compromisso de honra, é a identificação do autor da imagem apresentada. Nem sempre foi possível, devido a limitações na internet. Porém, esforcei-me sempre pelo reconhecimento do parceiro. Procurei não repetir imagens, embora tal tenha acontecido, independentemente de ser inconsciente ou voluntário.
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Os autores culturais não vivem de citações e de reconhecimentos, nem podem nem devem. Todavia, penso que um blogue sem fins lucrativos, sem sequer recolher pequenos donativos, é inofensivo.
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Tenho, ao longo dos anos, recolhido trabalhos dos meus «parceiros». Comecei com pequenas escolhas e evoluí para uma assombrosa pesquisa, em que cada escrita exigia mais e mais pesquisa. Ideia atrás de ideia, juntei milhares de ficheiros. Se fosse um museu estaria ao nível do Louvre, British Museum, Moma, Reina Sofia, Hermitage…
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Há uns anos criei uma secção de publicações apenas de imagem, em que a cor ou o tema se aliaram. Sem razão de conjugação com texto, essa selecção fez-se assentando no meu gosto. Essa gaveta é a excepção.
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O dicionário é um conteúdo diferente. É uma mostra dalgumas das minhas imagens preferidas. Não de todas, o que seria um exagero desnecessário.
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Dada a excepcionalidade da secção «dicionário», uma versão reduzida deste texto estará em todas as publicações. São explicações que devo a quem me procura e lê.
A dor faz parte da vida, mas dispensa-se.
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Nem sempre a lógica tem sentido, mas não há causa sem resultado nem retorno sem partida.
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Desilusão é verter sangue rubríssimo e fechar a alegria no luto.
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Um dia um pintainho pensou ser mais do que um tigre e mandar no mundo.
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Mostrou os seus dentes, eram todos caninos. Alargou a peitaça, rugiu e mandou e ai de.
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Na capoeira mordeu todos os bichos, aleijando sem excepções.
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O tempo manda e a vida obedece-lhe. Um dia outro bicho o irá morder.
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Irá descobrir que as galinhas não têm dentes e que um pintainho não é um tigre, muito menos só com caninos.
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As certezas são para serem quebradas, mas algumas são infinitas e eternas.
Funciona ou fica de consolo ou despreza-se. Nos dias tristes medem-se os objectos e o resultado é o que.
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A verdade é uma caixa onde está tudo, do labor equívoco fortuna-má-sorte e do amor, ódio e desamor. Daí se escolhe para se ser pode inversamente.
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Só trabalha o trabalhante e restam os sentimentos-acções.
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Tal as palavras, os dias são por nascerem e para se gastarem. Se depois de ditas, fica, à escolha, a aceitação, a nostalgia e a desordem.
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O passado não se deita fora. Talvezmente nem se arruma. Escondido, não digo que não. Regressa como bumerangue.
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Poucas coisas laboram como as canções, colo da mãe e açoite de alguém.
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A pomada não se me segura a momento, porque é eterno o consolo, mas sem saudade.
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Agoniado, não celebro glória nem infortúnio. Amargura pela minha aflição. Cair para trás com cabeça à frente, queixam-se as costas, porque a alma tocou o fim e já não.
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Sono, lugar onde se é e se está, igual à vigília, umas vezes e outras.
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O que a canção me lembra não importa. O unguento é o seu concentrado sintético.
Anos sem ver, menos que eternidade, além da teimosia.
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A memória é animal caprichoso, tanto morde, muito beija, inventa-se na verdade e na ilusão.
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Se não é ouro, é prata. A prata quando faz de ouro, é ouro. E é ouro como a verdade.
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Foi pouco, porque poucas e pouco por muito o grande a vontade.
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Pele da cor da pele, forma de feitio exacto, na inexactidão perfeita do corpo que a roupa esconde. Ideal, por isso justo.
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Mais desejados do que lembrados, os lábios gémeos generosos.
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Curvada disse engano, por bem consumado. Modéstia injusta, sem vaidade, mas verdade.
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A boca e o Céu, palavra indizível.
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Rosácea, ogiva e botantes, templo perfeito. Doutro ponto nunca me esqueço, os pináculos.
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Se eu percorresse a nave tombaria pela luz, como um milagre.
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Religiosamente lembro, devoto digo e crédulo desejo, iludido sabendo a verdade.
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Aspiração de êxtase. Oração por atender, esperança por cumprir.
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Se a rosa é perfeita, é azul-celeste o que se diz.
Quando uma palavra é dita não será silenciada. Podem apagá-la, existirá.
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Será flor na Terra, mesmo apenas no Jardim Celeste.
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Livrocubicularista do que quiser, como na biblioteca.
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Uma palavra nasceu, como se faz na cama.
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Dizem nascer no coração e passar para a cabeça. Se assim
simplesmente fosse.
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Dizem tocar na alma e borboletar no estômago. Se assim
incrivelmente fosse.
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Dizem roubar o fôlego e dar à luz suspiros.
Se assim respiratoriamente fosse.
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Não é de amor de que falo.
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Não falam nem dos enjoos que do fígado metastasam à vesícula nem
do jiboiar do intestino. Nauseabundo é.
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Não é de amor de que falo. Dum bicho bruto, sem escrúpulos. D’olhos
raiados do escuro de cegueira. Dentes lavados com sangue e garras de desesperança.
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Na jaula sem grades nem portas nem janelas nem luz sacia-se lentamente,
dolorindo parcimoniamente.
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Há diferentes modos de se morrer: quando se está vivo e quando se
está morto.
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Nota 1: documento fotográfico da Polícia de Londres
referente a Jack, o Estripador. A vítima foi Mary Jane Kelly.
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Nota 2: a fotografia foi colorida digitalmente.
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Nota 3: muito provavelmente o formato original da fotografia foi alterado.
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Passei, desejando passar, enganado passei, querendo ir, tendo passado, julgando o caminho certo, crendo ser no caminho, é passado, agora passo, andando sempre sem ver, olhando parado, retomando o passo, virando, revirando-me e continuando na direcção para onde dizem os pés e, como sempre, não o tino, que não é mais atinado, vou desperto como dormindo desejando o pedestal, crédulo num sonho da infância, mas não alcançarei mais do que a lápide das datas, avisa-me o senso-sincero-insensível, mago do desânimo, conselheiro ignorado, se não for para ser cinza.
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Entardecendo vejo o futuro. Agora querendo aqueles anos de tintura e película, da sala do cinema, do cheiro do teatro, quando comia as letras como se fosse traça, sei dos equívocos e os meus pés estão moídos.
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Aqueles dias, somente novos, os outros arderam como a folha listada onde se começou um poema desinspirado, quase plagiado, de amor ou melancolia.
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Onde errei e quantas vezes, pergunto-me sem interrogação.
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Desejar o regresso é caminhar numa rotunda de becos sem saída e sentidos proibidos, relógio sem ponteiros, conduzindo à inglesa.
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Nem saudade nem nostalgia, valha-me a graça de não ser de tais interesses. Nem imagino se. Porém.
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Não peço o regresso, mas a seta certeira e a quantidade de metros para chegar. Pergunto-me e é a cabeça quem responde.
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– Por que errei?
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– Porque tenho os pés mais feios do mundo.
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Olhando-me ao espelho percebo que estou quebrado e leio-percebo-constato as décadas de azar.
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As vitórias foram derrotas. Não sei se me impuseram à verdade ou se a mentira iludiu por mim. Tinha tanto brilho e ouro.
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Abro a mesa e liberto uma toalha de algodão, vincada pelas dobras da guarda prolongada, baixo as janelas, acalmo a luz com uma vela, jogo as setenta-e-oito cartas e pergunto-lhes e não leio o que entendo.
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Acaricio a bola dos meus estilhaços, a minha esfera só se transcende com o passado, ansioso leio as borras do chá na caneca e decifro os resíduos do café na chávena – as tais rugas e sulcos do pano naftalino, irregularidades de encantar, não desviam previsões nem calam engodos.
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Não me assusto com fantasmas, ilumino-os com preces, explico o momento e indico o caminho. Contudo.
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Não comigo. Alvoroço-me, sou fantasma de mim, não me desencosto com pau de incenso aceso, malva queimada, cânfora no bolso da camisa e velas na capela. Tanto quanto creolina e lixívia.
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Se há labirinto sem saída, é. Não tenho portas abertas e janelas fechadas nem o contrário, em negrum só paredes-cantos e ar sem luz.
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Como sempre, a cabeça responde à cabeça, porque sabe a verdade, da ilusão ao desgosto, assim acredita ou diz que.
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– Onde errei?
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– Em quase tudo.
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Por que quero conhecer o futuro quando sei o passado, se a minha curiosidade não tem apetite.
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Tenho-me em excesso e ainda me sobram erros e ilusões, doenças crónicas.
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Tão desviado que caído, por tão caído desviei-me, tão enganado que tão derrotado, tão derrotado que caído, constato a minha derrota no sucesso dos imerecedores. Lambo as lágrimas da inveja e do desrespeito que me dão sobradamente, tantas que.
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Pés tão feios só vão erradamente – diz a cabeça.
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Pés feios andam para o erro. Não há ajuda que ajude pés tão feios.
É onde estou, parado. Ao retrospectivar, não me rodando e sem olho de ver para trás, mas sei o que está, aqueles anos percebo tardiamente o sítio onde pertenço.
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Começa a obscurecer e sem saber o que fazer com a vida errada. Não há como inverter, não há terra, água ou céu para. Nem as palavras se corrigem no ar nem os passos se acertam com sapatos errados.
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Há um ramalhete de músicas, álbuns onde as imagens são ausentes e presentes, viagens incríveis-banais, caixas com as certezas juvenis, escuro de bola-espelhada e strobe light, cofre de esconder o álcool censurado e árvore-natal de miúdas-beijos na minha cabeça.
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Quarto está erradamente arrumado, a chave está na fechadura da porta aberta e não vou. Sei o miolo e não sou sôfrego do que tive.
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Chego a pensar que me faltam saudade e nostalgia para ter razão para chorar e alcançar os direitos para viver e morrer. Em vez disso, sobrevivo.
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A sobrevivência é o tédio da derrota. Interpretar não muda, sejam as perspectivas íngreme ou serena.
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Esses dias são noutra vida, como são os das outras vidas.
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Só obrigado voltaria, mas sei onde pertenço e não é aqui.
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Digo-te que estou triste, mas sobreviverei. Fico triste, porque é triste ficar na esperança de ir. Fico triste se não me dizem. Fico triste. Triste.
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Tenho uma porta, no sítio onde me encontram. O resto são paredes, janelas e ombreiras, quem as vê, se quiser, pode acreditar ver-me a caminhar, fugir ou apanhar fruta. A quase todos, não importo.
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A porta é clara em parede escura ou ao contrário. A maçaneta parece um maçaneta, a fechadura não tem chave e se espreitarem não verão. É simples rodar a maceta e empurrar para abrir, mas não querem. Fico triste, dói.
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Acreditam que não vou, por isso não estarei, nem se interessam, sabem nada, mas não querem saber.
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Dói. Dói. Até o sangue dói. Não querem saber antes, não querem saber depois.
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Parece que o sangue se transforma em lágrimas e as gotas salgadas correm nas veias. Dói.
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Consola-me ter o seu desprezo para lhes fechar a porta, para não verem onde estou, mas não irão.
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Invisível para não lhes dar espanto. Se quisessem saber.
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Vou onde me chamam e me querem bem. Gostaria que fosse a Terra toda e todos os espíritos da carne e do éter. Mas não, e dói.
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Onde estou, não me vêem nem verão, porque lhes fechei a porta, mesmo que não o saibam nem queiram. Ainda assim, fico triste. Dói.
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Dói. Dói. Onde estou não me verão chorar.
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Se virem? Não vêem nem verão, porque não querem saber.
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Estou noutra rua, doutra cidade, a preto e branco, janota ou mendigo, invisível noutro século.
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Porém, dói. Quando me dói fico triste, fico triste e dói.
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De qualquer forma, ainda bem que perguntaste.
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O meu olhar é triste como o da minha mãe como o da minha avó e como parentes antigos.
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É a minha meia-idade, que não me envergonha nem amedronta, mesmo sem um descapotável encarnado, rede de apanhar miúdas impressionáveis, é sonolenta, interessante como a hora do almoço de balconista ou escriturário.
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Tenho a pele presa por si mesma, porque o Sol impõe. Não posso fazer nada sem viver à sombra, como vivo.
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A água morna torna-a areosa. Não posso fazer nada além de poupar a higiene e não vou cheirar mal das axilas.
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Dos meus destroços, da vida quotidiana e universal, o lixo vai para o aterro e o resto vai para reciclar.
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Os poemas sem poesia valem como os resíduos indiferenciados, não são recicláveis e, pensando a correr, não são reutilizáveis.
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Há poetas que juntam palavras como se fossem poemas e, mesmo sem poesia, têm palmas e até ganham prémios.
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Desejo que os meus poemas sejam lidos, traduzidos, estudados, premiados e que, acima de todos os tudos, sejam poesia.
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Não leiam mais do que escrevi nem diferentemente ao posto. Este texto não é um poema, é um conjunto de pequenos parágrafos.
Então, disse-me:
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– O céu azul é lindo, não é?
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– Os cientistas dizem, li não sei aonde, que o céu não é azul.
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– Então, qual é a sua cor?
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– Não sei… talvez seja negro, tal como se vê à noite.
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– Deve ser a luz do Sol que.
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– Não sei. Os cientistas dizem coisas que não se entendem.
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– Êee… como assim? Quais? O quê?
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– Todos eles, de todas as ciências. Nunca têm certezas. Se as tiverem, outros desmentem-nos e, mais tarde ou mais cedo, os cépticos e os invejosos afinal não tinham razão… ou só em parte.
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– …
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– Para que quero as ciências? Não as entendo… só algumas pessoas… os cientistas, alguns outros sábios e gente muito inteligente e com grande memória. Há também os mentirosos, mas, se eu não souber, não perceberei que me enganam… como não me interessa, é-me indiferente o falso conhecimento. Iludem-me, mas não me roubam nada.
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– A ciência é importante.
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– Para quê? Adianta-lhe saber que a Terra é redonda? Poder calcular a raiz quadrada ajuda-o a descansar? E a fórmula química da glucose, que nunca me esqueci?…
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– …
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– Voando sobre uma esfera, a distância mais curta entre dois pontos não é através da recta. Quero ir daqui para ali e o caminho não me importa, desde que chegue o mais rapidamente possível.
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– Não lhe importam como vivem as plantas ou como actuam as vacinas?... Sem ciência não há tecnologia…
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– Interessam-me a couve no prato e as rosas no jardim. Quero as vacinas para não ficar doente e um comprimido para as dores…
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– Essas coisas não são importantes?!…
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– São coisas importantes, mas desinteressa-me o seu funcionamento. Para que quero a ciência? Não a entendo nem vou fazer uma pausa para aprender, porque não serei cientista e ser sábio ocupa o tempo em que me delicio a olhar a chuva, a afagar um gato ou a repousar em água morna…
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– …
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– Referiu-me as proezas… as ciências e a tecnologias. Quem é mais importante, o astrofísico que não me dá nada e me fala do que não entendo ou o padeiro que faz bom pão, mas desconhece química, física e mecânica?
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– Êee… âaa…
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– …
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– É um homem de letras, não de números.
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– É exactamente o mesmo! Saber o que é o predicativo do sujeito importa para dizer que se está molhado da chuva?
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– O conhecimento liberta…
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– O conhecimento científico gera desconhecimento. Por que hei-de andar numa estrada que cresce a cada passo? Se a ignorância é escuridão e apenas ver as sombras projectadas é, uma espécie, servidão, saber que saber significa saber menos do que se julgava saber… Saber de ciência é uma prisão doentia. E saber de letras não faz, do sábio, um poeta.
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– …
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– Não é possível saber tudo sobre uma coisa, tal como não é possível saber um pouco, que impressiona por ser muito, acerca de tudo. Se não posso saber tudo nem conhecer muitos bocadinhos de tudo, para que hei-de saber só uma parte ou ter muitas insignificâncias na cabeça? Por que escolher esta ciência e não outra? Porquê uma parte duma ciência e não outra parte? E, depois, como lhe disse, os cientistas duvidam, divergem, desmentem… prefiro as certezas, o resto – seja muito ou pouco, não me importa – é para os cientistas e para os doutores das letras.
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– …
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– …
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– O céu azul é lindo!
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– O azul é lindo, mesmo quando não é céu. É felicidade… não importa o que é, nada importa além de azul.
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– Digam o que disserem, os cientistas.
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– O dinheiro é indiferente para o pobre que não precisa mais do que tem.
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– Êee…
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– Uma limusina para ir ao jardim dar pão seco aos pombos? Uma cama com cinco metros de largura, quando o corpo tem menos dum de ombro ao ombro? Relógio de ouro que dá as horas como um de plástico e que se atrasa menos? Talheres de prata não tornam a carne mais macia nem a fruta mais doce. Uma gravata de seda sobre a camisa toca maciamente na pele como uma de poliéster.
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– Um apartamento com uma vista deslumbrante custa muito dinheiro…
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– Não espera que lhe diga que os ricos roubam os pobres e ficam egoisticamente com o belo. Não o direi… a abomino a beleza do trabalho esforçado, como glorificam os neorrealistas… nem disse que sou pobre nem que quero ser… nem que negligencio o belo. Disse do pobre que não quer mais do que tem, tal como estou satisfeito com a ignorância científica. Esse, da abastança monetária, é outro assunto.
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– O céu azul é lindo, não é?...
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– Digam o que disserem os cientistas.
O neorrealismo é feio, não por elogiar quem vive em muito esforço nem por engrandecer o trabalho de suor. Mostrar a miséria como miséria é feiura concentrada e sem diluição possível.
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Revelar a pobreza é denunciar injustiças e não é, quase sempre, arte. Não há muitas imagens das lágrimas de pobreza e do suor laboral que tenham a virtude da beleza.
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O feio é feio tal como é errado o quadrado de linhas tortas, o qual se elogia por ter nascido da inesclarecida intuição matemática dum poeta.
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Os desgostos da transpiração oficiosa e a melancolia do pouco da troca não são de envergonhar. Ainda assim, a dignidade é maior se a crueza for desbastada do óbvio.
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A maioria rende-se à expressão, do rosto e do corpo, pensando revelar uma verdade invisível e, por isso, alcançar uma graciosidade na dor. Há quem conte tudo mostrando pouco.
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Quase todos só falam da matéria, alguns mostram a carne a tocar na alma.
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Nota: tive de escrever este texto por causa da força desta imagem. Depois descobri que já a mostrara. Contudo, a força da imagem justifica voltar a mostrá-la.
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– Sabe, o céu azul não me liberta da dor.
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Não lhe respondi, porque não percebi por que não e não o quis contradizer e magoar e, na verdade, pouco me importou, pois tinha a certeza que sim.
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Ficámos em silêncio. Naquele silêncio, que me incomodou, percebi que é verdadeiro o que acabara de me dizer.
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Olhámo-nos, como se estivéssemos parados contemplando uma estrada imensa que não se quer percorrer, mas que é obrigatória. Pensei na escola, como sinónimo.
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Incomodado comecei uma frase, que não passou da primeira sílaba, e fui interrompido.
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– O azul salva, porque é lindo, é o começo, a essência e o fim da arte.
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– Então, o azul…
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– O céu é outra coisa. Qualquer coisa, mesmo que seja azul, não salva.
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– Então…
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– É como a felicidade. O que é a felicidade? Dinheiro? Amor? A despreocupação? Existe. Existe em muitas coisas. Coisas e estados de alma são coisas e estados de alma. O azul é um reflexo de Deus invisível. É a diferença entre ser, estar e conter. Qualquer um desses verbos tem de ser percebido, mesmo inconsciente ou desmentido com desprezos céptico ou impertinente.
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– Se conseguir ver Deus... ou o seu reflexo… ou o que julga ser Deus ou seu reflexo… estará salvo.
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– Todas as regras têm uma excepção.
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– …
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– Há uns comprimidos azuis que são milagrosos. Mas o milagre não é serem azuis. O milagre é acreditar que são miraculosos porque são azuis.
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– Compra sempre desses?
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– Só desses. Há doutras marcas, mas não são azuis.
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Ouvi e respondi, afirmo e falarei:
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Quem disse, é estúpido. Triste é o negro e a inquietação, o roxo e a exéquia, e o vermelho e sua euforia.
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Ou com tamanha venda na frente que uma pesadíssima cortina negra de veludo não serviria melhor.
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Desconhece a cor do céu soalheiro e o mar tranquilo e infinito.
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Não entende de cores ou todas as suas entranhas são daltónicas ou até só uma.
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O azul mata a dor melhor que a bala de prata e a estaca de madeira, em união redundante, conseguem com o vampiro.
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Se te disserem que é triste, manda ao azul para curar as coisas tristes.
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O azul está na minha agenda. Todos os dias o escrevo para não me falte.
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Nota: o comprimido é de Lamotrigina.
Aceito o tempo e compreendo a morte. Não sou fértil em saudades e antes capaz de curiosidade para espreitar como está.
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Percorri a avenida, ao chegar ao largo virei à esquerda, depois sempre em frente, tive a dúvida, aconteceu-me a hesitação e decidi ir pela rua da esquerda. Não pela da direita por saber as ausências, o deserto e das lojas desaparecidas – optei e fui para uma recordação.
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A Rua General Justiniano Padrel, tão perto das duas primeiras casas, ficou sempre longe. Por quê? Porque havia o sentimento da transgressão, uma memória inquietante e o receio de castigo.
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O meu mano andou desalinhado e um dia levou-me Rua General Justiniano Padrel. Ele saiu do caminho certo, não calculo a minha idade, e deixou a casa tinha eu nove ou dez anos. Foi para a Armada, casou-se, descasou-se, juntou-se, fugiu de Lisboa e mudou-se para mais longe.
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Cresci no quarto que deixou e que eu adorava pelo seu exotismo: gira-discos, músicas diferentes, divã, painéis artisticamente pintados, luzes coloridas para se acenderem à noite e um frasco verde, em forma de pinha, com perfume misterioso.
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Ele ia a casa de alguém ou para se encontrar com gente e levou-me. A minha mãe não deve ter gostado ou não tivesse eu o sentimento de transgressão e o receio de sermão.
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Qual a razão da sua censura? Provavelmente por aflição por ele ter ido comprar droga. Contudo, não creio que me levasse a tal lugar…
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Nunca precisei de ir à Rua General Justiniano Pardel, nem para estacionar – quanto muito, em número de vezes igual aos dedos duma mão, à Rua Barão de Monte Pedral que a antecede. Saí do Bairro América quando tinha vinte e oito anos, sem razões para voltar.
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Tive uma namorada que dizia não namorar comigo. Éramos felizes, apesar os meus dias complicados, até que fizemos transbordar o sentimento para o lado errado, inundando de vazio o que nos envolvia e guardávamos. Queria mudar-se, pediu-me que a ajudasse a encontrar casa e visitámos uma na Rua Justiniano Pardel.
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Quando regressei à Rua General Justiniano Pardel, em 2006 e certamente mais de vinte anos após a última vez, estava na mesma: o sentimento da transgressão, uma memória inquietante e o receio de sermão.
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Agora, há dias, fui com o desejo de sentir o esquisito, esperar a desaprovação e conseguir algum remorso. Não estavam lá… possivelmente a morte da minha mãe, vai fazer oito anos, dissipou a magia.
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O que posso fazer para recuperar o feitiço? Nada. Confuso, mesmo sem saudade, tenho de aceitar o tempo.
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Como se eu fosse um fantasma e não encontrasse a casa que me assombrou.
Agora é outro lugar.
Há uma cor só de dois dias, não mais de quatro, íntima e infantil. Os anos esconderam-me o momento anual, mas um asterisco cola-o na altura em que se vê o vapor expirado.
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Abria os olhos matinalmente e admirava-a pela pequena janela quadrada do tecto. Tinha-a como a certeza da mãe. Como ave migratória, nunca duvidei da sua chegada e sabedor dos poucos dias do ninho feito no céu.
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Quando vinha, queria estar na rua para ainda a ver, apesar da sua decadência e desvanecimento.
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O tom lilás-azul existe, embora a memória da última vez que a vi esteja deserta. Não a irreconhecerei, se assomar, sei.
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Há umas noites surgiu-me uma outra, ao modo da pessoa velha-conhecida quando nos é apresentada. Estava deitado, esperando o sono, e olhei para a janela.
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O tom tardio é longe do matinal, ainda assim infantilmente agradável. Se não vier breve, venha nos mesmos dias doutros anos ou, pelo menos, seja aneiro.
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Uma pomada macia untada nas asperezas da minha alma ubérrima de ansiedades e tristuras. E morna, bálsamo quando se vê o vapor expirado.
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Depois de dois anos a estudar artes, no secundário, mudei-me para humanidades. Fora das aulas escrevia, desenhava e fotografava. Comecei no Diário Económico, em Janeiro de 1990, e jornalismo tornou-se a árvore que sorve toda a água da floresta.
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Cansado do quase ócio na escrita profissional – embora não duvide do meu talento criativo e estilístico nem da competência – pensei que voltar ao estirador pode ser uma opção profissional complementar séria e desanuviador da mente. Nas palavras sou João Barbosa, nas artes João 25.
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Em 2022 soube do concurso Luxembourg Art Prize e concorri. Recuperar totalmente a mão direita, a outra não tem remendo porque foi sempre nula, levou algum tempo. Por isso, a quantidade de obras foi pequena e não me senti confiante nos trabalhos mais recentes.
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Senti uma coisa, uma sensação muito íntima, distante há mais de trinta anos: o prazer de pensar, conceber e fazer. Daí para cá, tenho o sentimento juvenil, do tempo um pouco antes da primeira namorada até à entrada no jornalismo. Uma felicidade de libertação.
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Na minha primeira candidatura ao Louxembourg Art Prize apresentei três desenhos e duas pinturas, a mais antiga de 1987 e a mais recente de 2008. Prometi-me, consciente que cumpriria, repetir no ano seguinte. Decisão reforçada por me ter sido concedido reconhecimento de mérito artístico.
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No ano seguinte, ainda com algumas inseguranças, concorri ao Louxembourg Art Prize com nove desenhos e quarenta e três fotografias. Os rabiscos datam de 2023, mas as fotos foram antigas, a mais velha reportando a 1987. Novamente, recebi a distinção de mérito artístico.
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Pensei em apostar mais na fotografia, quase jurei. Comprei rolos para as duas Canon e para a Rolleiflex, mas não correu como desejava. Foram muito poucas e, mais dum ano depois, ainda não as mandei revelar. Juntei um conjunto de inseguranças – confusões técnicas, dioptrias, receio em riscar os óculos e sensação de que uma das câmaras está com problemas.
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A segurança viria, teoricamente, com uma câmara digital. Porém, não tenho dinheiro, nem disponibilidade mental, para comprar. A isso acresce a incerteza de que quero realmente fotografar e de ter tempo, porque continuo a escrever, não deixei o jornalismo. A liberdade juvenil passou, estou na meia-idade e vejo o mundo diferentemente.
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Voltei claramente aos desenhos, ainda que tenha pintado alguma coisa. O número de obras de traço chegou às dezenas e preenchi dois cadernos. Esses livros permitiram-me ocupar a cabeça, estimular o pensamento e exercitar a mão direita.
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No momento em que escrevo, apresentei a concurso Luxembourg Art Prize uma pintura e oitenta e três desenhos. Hesito em entregar mais ou poupar alguma coisa para o ano. Entalada na indecisão está uma obra digital que publiquei aqui. https://infotocopiavel.blogspot.com/2024/01/pergunta.html
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O processo de candidatura é monótono e trabalhoso, mas vale-me a empolgação. Sem câmara digital de qualidade, sem scanner e receoso de que a digitalização em loja possa amolgar o papel, fotografei os trabalhos com o telemóvel.
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A qualidade dos registos fotográficos é fraca: não consegui rectângulos perfeitos – é o problema maior porque distorce –, a focagem é incerta e a luz pode atrapalhar. Por isso, repeti imensamente. Além dessa trabalheira houve o aborrecimento da escolha dos trabalhos. Finalmente introduzir os dados… ano, título, género, técnica, dimensões e descrição.
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Já que fotografei todos os trabalhos, resolvi fazer o mesmo com os cadernos de desenho. Esses livrinhos, através da datação, atestam os anos em que andei distante do estirador e do cavalete.
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O meu pai dizia que desenho como respiro. É verdade: um papel e um lápis ou caneta obrigam-me a rabiscar compulsivamente, uma espécie de vício. Sempre foi assim. Porém, uma coisa são uns bonecos e outra é trabalhar com objectivo.
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Antes dos dois cadernos recentemente preenchidos, tive um primeiro álbum em 1991 e que só o terminei em 2016. O segundo foi preenchido em 2023, tinha apenas um desenho feito em 1993. Comecei o terceiro no ano passado e terminei-o há poucos meses. O quarto está fazendo-se.
Há um outro elemento que traduz o meu afastamento das artes visuais: o género. Gosto muito de heráldica e teimosamente desenho brasões, parafernália acompanhante e mais umas coisinhas. Sinceramente, não me dá grande trabalho… é rápido e graficamente simples de colorir sem tinta.
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Comecei um armorial. Todos os meus amigos e pessoas por quem tenho estima receberam um brasão particular. Há uma regra de ouro: não pode existir qualquer relação com armas familiares existentes.
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Esse primeiro caderno está ocupado sobretudo com heráldica. Muito do que lá está nem foi criado por mim, há igualmente desenhos de registo, como, por exemplo, do «emblema» da Baviera – faço recolha de heráldica de domínio e a tarefa é trabalhosa, basta dizer que o Sacro Império Romano-Germânico era formado, em 1806, por mais de quatrocentos «países».
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Os meus desenhos heráldicos iniciais eram conservadores, embora com liberdades. Fartei-me da ortodoxia despreocupada e criei um formato único. Reconheço que o escudo e o ordenamento são muito feios e demasiadamente-extremamente-inacreditavelmente heterodoxos. Um dia terei paciência para redesenhar em papel, por agora estou quieto nesse assunto, ocupo-me com o trabalho profissional.
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A minha imaginação e a necessidade de matar o tédio foram maiores do que o número de amigos. Assim, os mais chegados receberam vários novos desenhos, formando armas complexas.
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Destravado, continuei criando e cheguei a um momento em que tive de trazer ao mundo dos vivos uns países imaginários. Vim a descobrir que não sou o único biruta e aprendi a palavra geoficção.
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E, basicamente, é isto que quis partilhar.
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Nem no Super Constellation nem no Electra nem no Tristar.
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Nem no DC-8 nem no DC-9 nem DC-10 nem no MD-11. Vou suspirando, qual menina adolescente vendo o cartaz da banda, pelo DC-3, que já aterrou sozinho. Largaram-no e lá foi ele, trabalhador humildemente arrogante. Velho e teimoso, aterrou sozinho.
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O 707, às vezes, fazia vibrar os vidros da minha janela. Ainda estava sobre o Tejo e já o ouvia no outro lado da casa. Corria para o ver chegar e corria para o ver ir embora. Não voarei.
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Voei no 727 e no Tu-154, que têm parecenças. No Boeing entrei pela traseira, sob o motor do meio e no soviético foi pela frente, sentei-me mesmo ao fundo, sob o engenho central.
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Gosto do 737… há tantos. É como as louras na Escandinávia, por tantas, prefiro as morenas mediterrânicas, e metade das vezes ao contrário.
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Infeliz, não melancólico, pensando no 747, que já não se faz. Devia ser proibido deixar de construir a Rainha dos Céus… por que não um fundo, das Nações Unidas ou da União Europeia, para proteger o passarinho cabeçudo?
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Nem no VC-10 nem no Il-62. Há tantos… a mim, que não tenho cagufas de voar, não me apanham num Comet. Como se houvesse um Comet para apanhar. Não voarei.
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Havia tantos e agora há tantos que não voarei… lembrei-me do VFW-F 614, esquisito como… escaganifobético, esdrúxulo, com aquelas asas… um zingarelho, uma mofamagarifamafofinha, que tem um ninho com sete mafamagarifamafofinhos. Voava cuncatoriamente, quase de certeza. Tão feio que não há foto de jeito para mostrar.
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Sim, o 787 é bonito, mas eu, sem dinheiro, não tenho o outro lado do mundo para ir. Só este, porque o Boeing são iguais aos Airbus e os Airbus são todos iguais. Rezo tanto.
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Não me falem no A380, que também é diferente. Pois é. Pois é um trambolho grande, mais feio do que uma francesinha a transbordar do prato.
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Já que falei numa mixórdia do Porto… ou dos arredores… fui para lá na barriga da minha mãe, num Caravelle.
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A minha primeira vez foi de Faro para Lisboa e do alto percebi que o Algarve é talqualmente no mapa, definido pelo Guadiana, o Atlântico e as serras.
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Do Porto, do FCP, não sei. Sei que não verei jogar o Peyroteo, o Eusébio nem tampouco o Matateu.
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Já ouvi:
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– Lisboa tem a águia, o leão e a cruz de Crist’e, o Porto tem a pantera e o dragão, animal que não existe.
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