digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, outubro 25, 2024

Cor de expirar


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Há uma cor só de dois dias, não mais de quatro, íntima e infantil. Os anos esconderam-me o momento anual, mas um asterisco cola-o na altura em que se vê o vapor expirado.

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Abria os olhos matinalmente e admirava-a pela pequena janela quadrada do tecto. Tinha-a como a certeza da mãe. Como ave migratória, nunca duvidei da sua chegada e sabedor dos poucos dias do ninho feito no céu.

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Quando vinha, queria estar na rua para ainda a ver, apesar da sua decadência e desvanecimento.

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O tom lilás-azul existe, embora a memória da última vez que a vi esteja deserta. Não a irreconhecerei, se assomar, sei.

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Há umas noites surgiu-me uma outra, ao modo da pessoa velha-conhecida quando nos é apresentada. Estava deitado, esperando o sono, e olhei para a janela.

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O tom tardio é longe do matinal, ainda assim infantilmente agradável. Se não vier breve, venha nos mesmos dias doutros anos ou, pelo menos, seja aneiro.

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Uma pomada macia untada nas asperezas da minha alma ubérrima de ansiedades e tristuras. E morna, bálsamo quando se vê o vapor expirado.

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