digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, abril 27, 2022

A culpa é do México


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Basicamente, a culpa da Guerra Russo-Ucraniana é do México. Ou doutro país qualquer que seja berço de malaguetas. Explico:

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Vlodimir Zelensky passou mal a noite, com pesadelos e dores de barriga. Ao jantar abusara da «galinha à Kiev» e entusiasmou-se, incauto, com o Paladin Sacana, que a sua prima Irina, que vive em Lisboa, lhe levara na véspera. Acordou incomodado e exausto, e pensou:

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– Apetece–me partir a porcaria deste país e dar cabo desta gente toda.

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Pensou, pensou e pensou e teve uma revelação:

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– Vou distribuir armas pelos civis, incluindo velhos e adolescentes… aliás, e crianças.

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Zelensky pediu a opinião aos psicopatas do governo, aos sociopatas das autoridades regionais e aos celerados dos autarcas. Todos, sem pestanejar aprovaram alegremente, batendo palmas e dando vivas e hurras.

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Porém, o presidente ucraniano não tinha um pretexto. Isto de partir tudo e pôr toda a gente a matar–se tem de ter, para melhorar a estória, um vilão. Mas, já agora, um vilão amigo. Agarrou no telefone e marcou um número.

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– Estou sim?

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– Oh Putin, tás bom?

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– Bons ouvidos te oiçam, Zelensky. Que me contas?

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– Estou a pensar partir o meu país e pôr esta malta toda a matar–se toda uma a outra. Pensei que me podes dar uma ajuda.

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– Estou a ouvir–te. Explica isso melhor. Bem sabes que estou sempre pronto a ajudar–te, amigo. Do que precisas?

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– Preciso que invadas a Ucrânia. Entras por aqui a dentro aos tiros e a partir tudo. Depois mando os civis, incluindo velhos e crianças, matarem–se uns aos outros. Bombardeio teatros, escolas, museus, hospitais… e digo que foste tu. O teatro talvez não, afinal sou um palhaço. Que se lixe! Bombardeio também os teatros.

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– Oh pá… mas isso é guerra. Não me apetece nada começar uma guerra. Já viste o que o mundo vai pensar de mim?...

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– Não te preocupes, já pensei como te vais safar. Dizes que é uma operação especial. Falas no Donbass e que vens resgatar os russos, porque os odiamos e tratamos mal.

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– Boa!... Depois acuso–te de teres tropas nazis. Tropas e mais uma data de nazis à paisana… e digo que vou desnazificar a Ucrânia. A propósito, tenho andado com crises de nostalgia da URSS… fui tão feliz no KGB!... Bons tempos!

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– Opá… sou judeu. A minha família foi vítima dos nazis. Não pode ser.

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– Ninguém vai querer saber disso.

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– Mas isso vai ficar na história… é melhor não.

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– Confia em mim. Esquece lá isso da história. Tudo passa. Achas que alguém se lembra do holomodor? Achas que alguém sabe do Pacto Molotov–Ribbentrop? É como dizíamos quando éramos miúdos: «caga, isso não sai no teste».

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– Achas?!

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– Acho, não. Tenho a certeza.

– Se tu o dizes… Olha, pensando bem, isso dos nazis é uma belíssima ideia. Tu acusas–nos e nós dizemos que até temos para a troca. Tu dizes do Batalhão Azov e eu falo no Grupo Wagner.

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– Epá, não te desbronques… tu bem sabes que sim, mas... nem digas nada que estiveram na anexação da Crimeia. Não toques nesse assunto. Peço–te.

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– Dizes que não sabes de nada. Mas tenho de dizer umas larachas… para dar crédito. Temos de manter as aparências.

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– Combinado. Sim, mas não te estiques com essa cena do Grupo Wagner.

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– Olha lá… e se fosse a Ucrânia a invadir a Rússia?

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– Não. O plano é bom. Mais vale não mexer. Sabes que podes contar comigo. Quando queres?

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– Vem no dia 24. A malta ainda não recebeu os ordenados. Poupo esse dinheiro para comprar armas para estes gajos se matarem todos… e ainda fico a rir, sou tão mauzinho...

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– A que horas me queres aí?

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– Vem cedo, pela noite ou de madrugada. Os gajos são apanhados ainda com sono. Assim ainda podes tomar o pequeno–almoço connosco.

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– Durante a noite não dá. Ainda vou ter de meter gasolina. Estes carrinhos bebem que se fartam, tu nem sabes. Vou pela manhã, é melhor. Ligo–te quando estiver a chegar. Mas à hora de almoço já aí estou de certezinha.

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– Não te esqueças de fazer o cartão frota. Poupas uns cobres.

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– Mas, almoçamos?

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– Não. Se viesses mais cedo ainda dava, mas a essa hora iria dar uma grande bandeira.

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– Bem, estamos combinados. Manda um beijinho meu à Olena.

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– Ela está aqui comigo e também está mandar–te um beijinho, e outro para Ludmila.

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– Tchau.

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– Tchau.


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