Basicamente, a culpa da Guerra Russo-Ucraniana é do México. Ou doutro país qualquer que seja berço de malaguetas. Explico:
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Vlodimir
Zelensky passou mal a noite, com pesadelos e dores de barriga. Ao jantar
abusara da «galinha à Kiev» e entusiasmou-se, incauto, com o Paladin Sacana, que a sua
prima Irina, que vive em Lisboa, lhe levara na véspera. Acordou incomodado e exausto, e pensou:
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–
Apetece–me partir a porcaria deste país e dar cabo desta gente toda.
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Pensou,
pensou e pensou e teve uma revelação:
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– Vou
distribuir armas pelos civis, incluindo velhos e adolescentes… aliás, e
crianças.
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Zelensky
pediu a opinião aos psicopatas do governo, aos sociopatas das autoridades regionais
e aos celerados dos autarcas. Todos, sem pestanejar aprovaram alegremente,
batendo palmas e dando vivas e hurras.
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Porém,
o presidente ucraniano não tinha um pretexto. Isto de partir tudo e pôr toda a
gente a matar–se tem de ter, para melhorar a estória, um vilão. Mas, já agora,
um vilão amigo. Agarrou no telefone e marcou um número.
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–
Estou sim?
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– Oh
Putin, tás bom?
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–
Bons ouvidos te oiçam, Zelensky. Que me contas?
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–
Estou a pensar partir o meu país e pôr esta malta toda a matar–se toda uma a
outra. Pensei que me podes dar uma ajuda.
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–
Estou a ouvir–te. Explica isso melhor. Bem sabes que estou sempre pronto a
ajudar–te, amigo. Do que precisas?
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–
Preciso que invadas a Ucrânia. Entras por aqui a dentro aos tiros e a partir
tudo. Depois mando os civis, incluindo velhos e crianças, matarem–se uns aos outros.
Bombardeio teatros, escolas, museus, hospitais… e digo que foste tu. O teatro talvez não,
afinal sou um palhaço. Que se lixe! Bombardeio também os teatros.
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– Oh
pá… mas isso é guerra. Não me apetece nada começar uma guerra. Já viste o que o
mundo vai pensar de mim?...
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– Não
te preocupes, já pensei como te vais safar. Dizes que é uma operação especial.
Falas no Donbass e que vens resgatar os russos, porque os odiamos e
tratamos mal.
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–
Boa!... Depois acuso–te de teres tropas nazis. Tropas e mais uma data de nazis à
paisana… e digo que vou desnazificar a Ucrânia. A propósito, tenho andado com
crises de nostalgia da URSS… fui tão feliz no KGB!... Bons tempos!
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– Opá…
sou judeu. A minha família foi vítima dos nazis. Não pode ser.
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–
Ninguém vai querer saber disso.
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– Mas
isso vai ficar na história… é melhor não.
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–
Confia em mim. Esquece lá isso da história. Tudo passa. Achas que alguém se
lembra do holomodor? Achas que alguém sabe do Pacto Molotov–Ribbentrop? É como dizíamos
quando éramos miúdos: «caga, isso não sai no teste».
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– Achas?!
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–
Acho, não. Tenho a certeza.
–
– Se
tu o dizes… Olha, pensando bem, isso dos nazis é uma belíssima ideia. Tu acusas–nos
e nós dizemos que até temos para a troca. Tu dizes do Batalhão Azov e eu falo
no Grupo Wagner.
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–
Epá, não te desbronques… tu bem sabes que sim, mas... nem digas nada que
estiveram na anexação da Crimeia. Não toques nesse assunto. Peço–te.
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–
Dizes que não sabes de nada. Mas tenho de dizer umas larachas… para dar
crédito. Temos de manter as aparências.
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–
Combinado. Sim, mas não te estiques com essa cena do Grupo Wagner.
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– Olha
lá… e se fosse a Ucrânia a invadir a Rússia?
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–
Não. O plano é bom. Mais vale não mexer. Sabes que podes contar comigo. Quando
queres?
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– Vem
no dia 24. A malta ainda não recebeu os ordenados. Poupo esse dinheiro para
comprar armas para estes gajos se matarem todos… e ainda fico a rir, sou
tão mauzinho...
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– A
que horas me queres aí?
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– Vem
cedo, pela noite ou de madrugada. Os gajos são apanhados ainda com sono. Assim ainda podes
tomar o pequeno–almoço connosco.
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– Durante
a noite não dá. Ainda vou ter de meter gasolina. Estes carrinhos bebem que se
fartam, tu nem sabes. Vou pela manhã, é melhor. Ligo–te quando estiver a chegar.
Mas à hora de almoço já aí estou de certezinha.
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– Não
te esqueças de fazer o cartão frota. Poupas uns cobres.
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– Mas,
almoçamos?
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–
Não. Se viesses mais cedo ainda dava, mas a essa hora iria dar uma grande bandeira.
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–
Bem, estamos combinados. Manda um beijinho meu à Olena.
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– Ela
está aqui comigo e também está mandar–te um beijinho, e outro para Ludmila.
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–
Tchau.
.
–
Tchau.
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