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Um corredor vazio do qual se espera um sopro antes-depois do
som. Toda a casa de vazio, para a qual se espera vazio. Pode ser a escola num fim-de-semana
sem datas. Ou não espero nada, desejo ou nem sei.
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Posso estar porque me esqueci. Na verdade, lembrei-me. A prisão
é a liberdade, lá fora há a loucura e dias por passar.
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Passos sem tempo nem vírgulas. Falta-me assunto e sem
dicionário vou em círculos perguntando.
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– Badamerda ou bardamerda?
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Como se tivesse sido insultado, respondo redondo e cheio.
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– A puta que te pariu! Estou a cagar-me, caralho!
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Não estou. Nunca estou para não estar. Qualquer palavrão
finda em arrependimento.
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Quase arranco os cabelos. Quase parto o crânio na parede. Quase
querendo a loucura.
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Arrependo-me muito, porque tenho
cabeça-coração-pulmões-estômago-fígado e sangue.
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– Porra! Porra! Porra!
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Tenho de repetir até cansar-me, deixando a loucura –
invisível lá fora como aqui – soar e ouvindo ouvindo-me, algo como um orgasmo e
a dor de engolir um copo de água após sede demorada.
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Se enlouquecesse, se pudesse ser a verdade, se pudesse não
ter memória nem consciência, se me esquecesse de mim. Se fosse louco.
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Se pudesse não ser verdade. Se esta fosse a liberdade, como
a que imaginei.
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Se houvesse cheiro e visse a preto e branco e se assim fosse
visse a cores.
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Se pudesse entrar na parede e sê-la. Dela, olhos e ouvidos. Se
houvesse um relógio para ver as horas.
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Sei que há um relógio. Tem de haver. Não se vive sem horas. Estas
são infinitas e hão-de acabar.
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Não se pode viver assim. Não posso viver lá fora e, enquanto
puder, será só meu o vazio.
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Grito palavrões.
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Eu que nem digo palavrões.
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Nota: Não consegui identificar a autoria desta fotografia. Se alguém souber, por favor, informe-me.
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