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Num navio-de-espelhos para o horizonte como geringonça de
teatro. Só é drama de silêncio. Se olhos invisíveis vêem, calam-se no tempo
íntimo.
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O navio-de-espelhos voga em canção-de-água e vagarosamente
corta o chão, enleado na monotonia do coro de sereias. As fábulas inventam-se e
são absolutas no tempo sem horas.
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O navio-de-espelhos parece ir, mas não vai. A água de sal e
escuridão é tragédia de teatro, o vento sopra-se numa coisa acornetada.
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Na escuridão sem velas, nem luz nem viagem, parado esperando
ir e qualquer coisa.
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Quando não me vejo, não estou e se não estou posso não ser. Falo
alto e oiço-me, neste chão de madeira e mar. Nada me garante que seja eu.
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Nota: «Navio de espelhos» é um poema de Mário
Cesariny. Este meu poema não tem qualquer ligação consciente ao de Cesariny. No
entanto, a imagem desse navio insistiu em aparecer-me durante toda a escrita.
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