digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, fevereiro 10, 2017

Canção-de-água /// e roubei um barco ao Cesariny

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Num navio-de-espelhos para o horizonte como geringonça de teatro. Só é drama de silêncio. Se olhos invisíveis vêem, calam-se no tempo íntimo.
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O navio-de-espelhos voga em canção-de-água e vagarosamente corta o chão, enleado na monotonia do coro de sereias. As fábulas inventam-se e são absolutas no tempo sem horas.
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O navio-de-espelhos parece ir, mas não vai. A água de sal e escuridão é tragédia de teatro, o vento sopra-se numa coisa acornetada.
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Na escuridão sem velas, nem luz nem viagem, parado esperando ir e qualquer coisa.
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Quando não me vejo, não estou e se não estou posso não ser. Falo alto e oiço-me, neste chão de madeira e mar. Nada me garante que seja eu.
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Nota: «Navio de espelhos» é um poema de Mário Cesariny. Este meu poema não tem qualquer ligação consciente ao de Cesariny. No entanto, a imagem desse navio insistiu em aparecer-me durante toda a escrita.

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