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A banalidade é uma sopa morna. Óbvia como trágica a sopa
fria e a exaltada sopa quente. No enfadonhamento ou com as papilas zangadas não
há aromas nem sabores e o cheiro e fome passam.
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A banalidade é vazia. O resfriamento e o escaldamento são fáceis,
aos olhos simples são artifícios de vibração elegante ou censura picante.
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A banalidade é uma sopa com legumes infelizes a boiar ou arroz
corno-manso ou massa sem erecção.
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A banalidade é uma posta de pescada cozida sem sal.
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A banalidade é o largo da aldeia, onde todos os dias os
mesmos bons-dias e a meteorologia.
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A banalidade é confortável como um cobertor de papa no
Inverno e a discrepância é um castelo inútil.
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A banalidade tanto serve se dita no preparo dos comeres ou
se depois nos equívocos do lado em que se devem pôr os guardanapos.
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A banalidade não está bem com os panos à esquerda ou à
direita e contenta-se funcional num efeito de patinho ou de pavão sobre o prato
ou à sua frente.
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A banalidade é a solução para se estar bem à mesa sem se
saber estar à mesa.
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– Aparte digo que prefiro um arroto bruto para dizer do que
o bocejo para dentro de quem descobriu o cabelo despenteado aos quarenta e
cinco anos.
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A banalidade é a indiferença que ninguém quer. No entanto, porém
e contudo, precavendo sobressaltos, a banalidade é escolher o caminho quieto; há
setas, chão-mecânico e, à janela, uma paisagem pré-fabricada engrenada em
sentido contrário.
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A banalidade é o elogio fúnebre. Os mortos são ímpares e de
Dantas só se sabe por Almada.
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É difícil fazer bem uma sopa. Quanto à média, a única que
importa é a Idade.
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