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Na rodogare somos mais anónimos e por isso quase livres. As
camionetas pausam em todos os lugares. Nas ferrogares chegam e partem os comboios
que param espaçados nos sítios. Nas aerogares e nas navogares sabem-se os nomes e os destinos.
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Na rodogare posso amar quem quiser e apaixonar-me de dez em
dez minutos e ser retribuído mas inconsequente sem dolorosos assombros de dor
moral.
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Na rodogare posso andar dez centímetros acima dos dias e
poupar nos bolos expostos numa montra onde tudo é amarelado da luz.
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Na rodogare o café é mau, mas isso nos apeadeiros
ferroviários – preço da pressa e da ansiedade e da tristeza e das saudades,
porque ninguém viaja de camioneta porque quer.
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Na rodogare o chão é mais sujo e as pessoas.
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Na rodogare fuma-se descaradamente e nem num automóvel.
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Na rodogare a luz é escura e cheira a diesel.
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Na rodogare as casas de banho servem viciados e corruptores e
doentes de qualquer sexualidade.
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Na rodogare há os gordos mais gordos e os feios mais feios e
os mais malcriados e os mais simplórios e os mais mal vestidos e uma multidão
de gente carregando gerações de consanguinidade, alcoolismo e analfabetismo.
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Os cães não podem entrar na rodogare.
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Essa é a liberdade que falta.
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