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É porque que preciso duma fada, dum génio lamparino ou dum
meteorito. Ou tubos e retortas, um relógio de pesos inglês, gatos e cristaleira
num sismo. Se cão, sua trovoada. Frio e lâmpada eléctrica incandescente, de
feixes amarelos – como quando nino, franzindo os olhos para os ver chegarem quasi perpétuos.
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Os fantasmas natalícios de Dickens, agiotas e ratazanas,
cascatas de tudo para chão de pedras escorregadias ou de lama e bosta, fontanários
envenenados e crianças sob teares, nos bairros de fumo e suor e batatas,
prostitutas, cerveja e gin.
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Jack, o Estripador, o Monstro de Frankenstein, o Conde
Drácula, o Lobo do Capuchinho Vermelho, Fausto, Dorian Gray, Doutor Jekyll and
Mister Hyde, Narciso e Orfeu. O retrato do bisavô que era duque e gastou tudo e perdeu até a mulher, no Egipto.
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A casa range de imensa, chove-lhe e correm patinhas no
escuro. Na cozinha de ladrilhos de xadrez há bolo-inglês, chá verdadeiro,
açúcar e pinga de leite, pode ser Natal.
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Nem Godot bate à porta nem o Batman. O chá quente e ninguém,
cama de lençóis de meses e almofadas de anos. Se gatos, seus demónios. Se cão,
seu medo de coragem generosa.
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À meia-noite, o relógio de pesos inglês sentencia e o chá vai
à pressa e eu para esperança – amanhã talvez seja Natal.
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Nota: Por limitação da caixa das etiquetas, coloco aqui os
créditos artísticos. Música «Fairy on the Clock», Letra de Erell Reaves, Música
de Sherman Myers, Orquestração de Patrício da Silva, Interpretação de Ian Whitcomb,
Música por «What’s Next Ensemble».
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