digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, fevereiro 27, 2016

O Natal de Victória

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É porque que preciso duma fada, dum génio lamparino ou dum meteorito. Ou tubos e retortas, um relógio de pesos inglês, gatos e cristaleira num sismo. Se cão, sua trovoada. Frio e lâmpada eléctrica incandescente, de feixes amarelos – como quando nino, franzindo os olhos para os ver chegarem quasi perpétuos.
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Os fantasmas natalícios de Dickens, agiotas e ratazanas, cascatas de tudo para chão de pedras escorregadias ou de lama e bosta, fontanários envenenados e crianças sob teares, nos bairros de fumo e suor e batatas, prostitutas, cerveja e gin.
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Jack, o Estripador, o Monstro de Frankenstein, o Conde Drácula, o Lobo do Capuchinho Vermelho, Fausto, Dorian Gray, Doutor Jekyll and Mister Hyde, Narciso e Orfeu. O retrato do bisavô que era duque e gastou tudo e perdeu até a mulher, no Egipto.
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A casa range de imensa, chove-lhe e correm patinhas no escuro. Na cozinha de ladrilhos de xadrez há bolo-inglês, chá verdadeiro, açúcar e pinga de leite, pode ser Natal.
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Nem Godot bate à porta nem o Batman. O chá quente e ninguém, cama de lençóis de meses e almofadas de anos. Se gatos, seus demónios. Se cão, seu medo de coragem generosa.
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À meia-noite, o relógio de pesos inglês sentencia e o chá vai à pressa e eu para esperança – amanhã talvez seja Natal.
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Nota: Por limitação da caixa das etiquetas, coloco aqui os créditos artísticos. Música «Fairy on the Clock», Letra de Erell Reaves, Música de Sherman Myers, Orquestração de Patrício da Silva, Interpretação de Ian Whitcomb, Música por «What’s Next Ensemble».

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