digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, fevereiro 26, 2016

Eu como palhaço morto

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Quando me deram o riso impuseram-me a tristeza. Pagam-me o aplauso com palmadinhas de compaixão e mentiras silenciosas. Como todos os rejeitados acredito na injustiça, no mundo enganado e mamo na derradeira esperança de ter um passado no futuro.
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Unto-me nas músicas gordurosas e poemas sinistros de raiva mordida para dentro – não hidratam nem curam. Alguns sinceros dão-me o desconto para os tolos e, com um espelho em que não me identifico, vejo o sorriso da esperança – o meu de ilusão.
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Dão-me rosas, sabendo-as nuas. Os cínicos são compreensivos e entregam-me a promessa de roupa – a do Rei nu. Pendurado no estendal, espero a aberta que seque a roupa por estender e que me vestirá – fico no Inverno.
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Como todos os palhaços, tenho um sorriso. Digo que me mato, não conto. Nem ouvem, deitam-se e até amanhã ou qualquer dia.
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Pior é não ter inveja e suportar vergado a vida que juro não merecer. Sonho em ter um passado no futuro, seja em cinza ou húmus.
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Nota: O título do texto é o mesmo do da fotografia.

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