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Então:
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– Então, apaixonei-me por ela.
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– Quem? Quem?
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– Uma miúda da minha turma…
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– Como era ela?
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– Não sei bem o porquê… era cool, tinha pinta, popular e
boa-onda.
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– Mas, fisicamente…
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– Baixota e… muito bonita.
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– Como bonita?
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– Bonita!
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– O que fizeste?
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– Não fiz nada. Fui tímido até muito tarde. Em contrapartida,
sempre fui muito consciente da realidade e que andar de patins era coisa que
escusava.
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– Assim é que é não tiveste mesmo hipótese.
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– Nunca teria.
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– O que aconteceu depois? Esqueceste-a? Cortaste os pulsos?
Choraste desalmadamente?...
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– Suspirei. Suspirei triste. Na verdade, aos treze anos, não
sabia o que era isso de namorar – sabia que tinha de haver uma declaração… e se
ela aceitasse, o que fazer?... e se ela me desse uma, mais do que provável
nega, o que fazer?... E no dia seguinte?... E os intervalos?...
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– Esqueceste-a?
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– Apaixonei-me por outra.
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– Esqueceste-a depressa, à primeira.
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– Nada! Estava apaixonado pelas duas ao mesmo tempo.
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– Essa segunda miúda como era?
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– Loirinha…
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– Aos treze anos somos muito atraídos por loiras.
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– A primeira também era loira… aloirada… ouro velho.
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– Conta-me mais sobre a segunda.
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– Loira e de olhos azuis… ou seriam verdes?... Penetrantes.
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– O que fizeste?
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– O mesmo que não fiz à primeira.
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– Eram parecidas?
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– Nada. Em nada. A primeira era cool, a segunda era daquelas
muito arrumadinhas. A primeira gostava de desporto. A outra preferia ficar à
conversa nos intervalos.
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– Essas paixões adolescentes… quanto duraram?
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– O tempo todo em que estive na escola.
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– Bolas! Isso parece uma coisa de Sempre-Noivo ou de
Triste-Viuvinha…
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– Nada! Fui apaixonando-me por mais. Mais tarde, aos dezassete
anos, é que encontrei uma miúda a quem fui capaz de me declarar.
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– E?...
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– Ela aceitou.
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– Quanto tempo durou?
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– Nem sei. Mas, uma semana depois, fui de férias para o
Algarve e comecei a namorar uma alemã.
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– Don Juan...
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– Acho que não.
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– Finalmente esqueceste as outras.
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– Sim. Mas continuei a apaixonar-me sucessivamente, mesmo
tendo namorada… tive muitas, mas também ganhei campeonatos de hóquei em patins.
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– O quê?
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– Par de patins.
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– Ah!
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– Só atinei aos vinte e três anos.
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– Quanto tempo?
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– A partir daqui não digo mais nada.
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– Porquê?
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– Não me apetece. Quando esse primeiro amor sério – sérios foram
também os outros, no padrão adolescente – terminou voltei a ser namoradeiro e
campeão de hóquei no gelo.
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– Mudaste de desporto?
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– Sim… mais fácil de cair, de me manter de pé e de me
aleijar.
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– Por isso não contas mais nada a partir de mil novecentos e
noventa e três…
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– Não! De dois mil.
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– Sabes delas?
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– Duma, sim. Doutra não.
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– Compreendo.
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– Mas, olha. Dessas duas primeiras namoradas… ainda somos
amigos. Falamo-nos, não todos os dias ou semanas ou meses, mas várias vezes por
ano.
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– Tá giro, oh patinador.
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– Depois vi a luz.
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