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Perdi saúde. Perdi trabalho. Perdi um grande amigo, ou nunca
o tenha sido. Perdi saúde.
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Algumas pequenas vitórias naufragaram como pequenas
derrotas. Tão rasteiro que me foram grandes as perdas.
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Não perdi o pai, migrou para um dia. Deixou-me a Lioz, por
inesperada rasgou como sílex, mas um dia.
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Mais um dia e outro à frente, sempre piores do que se vêem
ao olhar para trás. E não, não sofro de nostalgia.
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Tenho melancolia e tédio. Tenho a desesperança pelas perdas,
pelos roubos, pelos esquecimentos, pelas leviandades, pelas mentidas, pelas
fantasias, pelas traições, pelas novas prioridades, pelos inesperados, pelos
equívocos, pelas mudanças de opinião de quem está acima na hierarquia, pelos
compassos de tempo que se vão ter de fazer entretanto, pelos não é para já,
pelos dei o teu nome, pelos vais ser contactado, pelas pelos amigos que não
ajudam por pudores, artifícios atenuantes e analgésicos da consciência. Pelas.
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A merda que me sinto – não em que me sinto.
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Sou míope de lógica e incompreendo o mundo; talvez veja bem
e incompreenda as razões para o mundo. Talvez seja cego.
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Não compreendo bem a formulação da palavra invisual.
Compreendo perfeitamente a vantagem de se ser invisível.
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Disse, tenho dito, vou dizendo e provavelmente direi:
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– O melhor é não pensar nisso. Nessas coisas todas. Não te
canses. Não te enerves. Compreende. Tenta compreender. Talvez esteja a avaliar-me
mal.
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Talvez me avalie mal.
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Há sempre um ópio. Uma esperança estúpida. Um sentimento de
que a vida agora é que vai começar.
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Mas não. Repetindo. Insistindo. Caindo abaixo dos solos.
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Pelo que disse, pelo que sou de risível, de ridículo, de
falhado.
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Pelo que escrevi acima, venho:
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Requerer a Vossa Excelência que autorize a cruzar a
fronteira para a realidade paralela.
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Pela merda que me sinto – não em que me sinto; a merda que
sou!
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Sem mais e com os melhores cumprimentos,
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João Barbosa – falhado sem número atribuído.
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