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Não morri, mas não me notificaram.
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Não telefonaram enquanto dormia. Sem sobressalto de alegria
ou esperança ou tristeza – derrota.
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Por vezes de manhã olho pela janela com o sonho da noite
preso diante ou sem ver além do que está.
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Disse a professora de matemática:
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– Arte é o que se vê ali e está no quadro.
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Talvez tivesse razão se os olhos se a matemática.
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Por vezes de manhã olho pela janela com o sonho da noite
preso diante ou sem ver além do que está.
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Tanto faz quando não há mala para arrumar nem para passar a
porta, ficar como o que se vê ali e está no quadro.
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Rir tanto faz e não tem graça.
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Rir dos doentinhos sem anestesia, Deus queira não sintam. Se
Deus quisesse não.
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Se riso e dor e riem da dor, os doentinhos sem anestesia.
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O mundo depois da janela é o que se vê. O mundo depois da
janela pode espichar-se num quadro – sabia lá ela uma cor quanto mais um tom ou
a poeira da pedra ou a câmara-escura.
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Os palhacitos vivem nos manicómicos – casas de tortura dos
conscientes, doentinhos.
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Odeio palhaços e mais os palhacitos – sina que
sobrou.
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A professora de matemática era peremptória como os ignorantes.
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Tinha certezas- Provavelmente se eu soubesse de matemática diria:
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– Pobrezita, pensa que a vida se faz só com números, mesmo diante
de Deus ou do aço inoxidável.
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Há a felicidade e ver depois é complicado e quase tudo.
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Para lá do vidro para dentro – além corpo, meta-corpo, raciocínio,
razão, indefinição, incerteza, consciência, neuroquímicos e alma,
desprendimento, liberdade – para lá do vidro.
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A professora de matemática sentenciou.
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Não é de riso. Via da janela e a anestesia era-lhe
indiferente porque só via.
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Já morreu, coitada. Ainda cá ando, coitado.
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No triste manicómico, dos palhacitos e sem anestesia.
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