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Não há palavra que junte cheiro de palco e luz de cena. Sou aço
mas anseio por magia e engano, suas sombras e vozes.
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Emudeceram-se as pancadas de Molière, que impunham ordem, e despreza-se
Macbeth, fantasmagoria de tragédia e perdição no teatro onde fosse dita se não
estivesse em cena.
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Um dia pensei em deixar-me enclausurar numa igreja e nela
passar a noite para saber daquela solidão e (quiçá) conhecer qualquer coisa.
Quase aconteceu, um acaso. Adormeci o sonho e lamento ter saído da Sé
Patriarcal de Lisboa.
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Não há palavra que junte cheiro de igreja e luz de templo,
ainda que as chamas das velas não sejam – até agora as suas pedras, madeiras,
telas, óleos, pratas, panos, incenso, ceras e sombras.
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Incompreendo a fé dos subornos, dos arrogantes pagando aos
santos por milagres. Efabulo o aroma da água benta mas inconsigo acreditar.
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Do zero ao infinito, onde é o sagrado das palavras do
sacerdote e onde fica a compreensão dum tempo e motivo.
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– … gerado, não criado, consubstancial ao Pai.
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Não há palavra para a noite de lua-cheia em que trepei um
poste e saltei um muro coroado com arame farpado e me perdi enamorado pela aventura em túneis, torres, fantasias
manuelinas, esconderijos, lagos, jardins, cisnes, sombras e sussurros.
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Nem palavra para isso nem para o cheiro de toda essa noite.
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Parágrafos retirados, por alguma redundância, desnecessidade
e ineficácia minha. Queira colocar onde entender, se assim o desejar:
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Não sei como os actores engolem todas as palavras que o
cérebro digere e ordena à boca e corpo, nem como os dramaturgos sentem os
improvisos. A letra é sagrada e por isso obrigatória ou há a maravilha da dádiva
quando alguém a transforma… ou.
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Não sei como os crentes creem se ouvem, duma voz vazia, o do
livro e da representação ritual do que não entendem nem talvez pensem.
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