digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, julho 15, 2015

Desmomento

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– E se…?
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Disse-me no vácuo duma conversa por iniciar. Não chegou a ser suspiro nem sussurro.
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– E se…?

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Repetiu e percebi que falava acerca de qualquer coisa a meu respeito, não tendo como certa a minha existência além de.
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Uma conversa acabada, um pensamento solto, sem início. Eu estava ali, não estando, suspenso do depois.
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– E se…?
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Tomei-me por excedentário e afastei-me duma fonte que se recusava a secar-me a sede.
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Sou um homem-de-papel, personagem em letra impressa e vontade imprecisa. Até onde se chega, quando um ponto final é sucedido pela palavra fim. Não passo pela lombada.
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Ou isso, ou não entro por direito, intruso que se vale mais do que dão.
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– E se…?
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Repetiu novamente, já estava no caminho do sair. Não parei mais do que o tempo necessário para lhe dizer:
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– E se…?
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Olhou através de mim. A conversa terminara.

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