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Estava num sítio escuro de madeiras e quadros antigos, óleos
de marinhas e de ovelhas a ruminar. Estava o silêncio pesado da solenidade das
coisas importantes. Diante de mim, olhando-me até ao outro lado da pele, o
banqueiro com a expressão da inexpressão, respirando ou vivendo, folheou o
livro de cheques, com uma caneta Mont Blanc, que invejei antes de a ver, escreveu
uns números, preencheu o formulário e assinou.
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– Tome.
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– Não sei se mereço…
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Desabafei aquelas palavras porque não tinha nada para dizer
e achei que deveria ocupar o silêncio.
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– Não merece.
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– Obrigado. Posso ir?
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– Foi um prazer… acompanho-o à porta.
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Saí. Mal passei a porta tocou o telemóvel.
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– Estou sim?!
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– (…)
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– Estou sim?!
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– (…)
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– Estou?!
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Acordei com o telefone. Levantei-me e liguei o computador,
acedi ao sítio do banco na internet e verifiquei que a conta bancária
continuava sossegada e deprimida.
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