digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, maio 12, 2015

De Lisboa a Petropavlovsk-Kamchatski

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Saudade do intido, ciúme de mim e uma viagem por fazer. De Santa Apolónia a Petropavlovsk-Kamchatski, via Moscovo e adormecer até depois de Sverdlovsk – dito assim, manda a memória negra do vermelho esquecer Ecaterimburgo. Depois, Novosibirsk, porque soa bem.
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Porquê?
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As gares ferroviárias são catedrais. Os comboios cruzam os países e quase toda a gente fala inglês. Em qualquer lado se desvia e se fica até acabar o tino e embarcar.
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Por qualquer lado e para qualquer lado e que se lixe a Sibéria. Os russos são insuportáveis quando estão bêbados.
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Entre destinos, almoçar no MacDonald’s. Em qualquer cidade, beber café e dizer que é uma merda.
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O chão da Europa é de cimento. Em Lisboa o calcário retribui ao Sol e também o Tejo – luz que prende. Lisboa é uma mãe possessiva.
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Ter saudades da mãe e ligar ao final da tarde, disfarçando a comoção. Jantar no MacDonald’s e beber cerveja andando como se houvesse destino. Dormir e acordar e tomar o pequeno-almoço no MacDonald’s.
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Evitar os museus e os monumentos, num qualquer café pedir uma cerveja e um café – que é uma merda. Andar sem ver ou fé.
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Retornar à gare e entrar naquele comboio, imprecisamente preciso. Antes, beber uma cerveja e um café – que é uma merda.
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Se fumasse, acendia um cigarro. No sítio sujo das estações, pedir outro café, apesar de saber que é uma merda e se tiver tempo passar pelo MacDonald’s.
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No enfado carregado ainda antes de Santa Apolónia pensar em Petropavlovsk-Kamchatski e suspirar por ficar no conforto das cidades onde há MacDonald’s. Para dentro gritar livremente:
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– Que se lixe Lisboa! Que se lixe Petropavlovsk-Kamchatski!
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Em Petropavlovsk-Kamchatski também há MacDonald’s.

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