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Saudade do intido, ciúme de mim e uma viagem por fazer. De Santa
Apolónia a Petropavlovsk-Kamchatski, via Moscovo e adormecer até depois de Sverdlovsk
– dito assim, manda a memória negra do vermelho esquecer Ecaterimburgo. Depois,
Novosibirsk, porque soa bem.
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Porquê?
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As gares ferroviárias são catedrais. Os comboios cruzam os
países e quase toda a gente fala inglês. Em qualquer lado se desvia e se fica
até acabar o tino e embarcar.
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Por qualquer lado e para qualquer lado e que se lixe a
Sibéria. Os russos são insuportáveis quando estão bêbados.
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Entre destinos, almoçar no MacDonald’s. Em qualquer cidade,
beber café e dizer que é uma merda.
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O chão da Europa é de cimento. Em Lisboa o calcário retribui
ao Sol e também o Tejo – luz que prende. Lisboa é uma mãe possessiva.
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Ter saudades da mãe e ligar ao final da tarde, disfarçando a
comoção. Jantar no MacDonald’s e beber cerveja andando como se houvesse
destino. Dormir e acordar e tomar o pequeno-almoço no MacDonald’s.
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Evitar os museus e os monumentos, num qualquer café pedir
uma cerveja e um café – que é uma merda. Andar sem ver ou fé.
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Retornar à gare e entrar naquele comboio, imprecisamente
preciso. Antes, beber uma cerveja e um café – que é uma merda.
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Se fumasse, acendia um cigarro. No sítio sujo das estações,
pedir outro café, apesar de saber que é uma merda e se tiver tempo passar pelo
MacDonald’s.
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No enfado carregado ainda antes de Santa Apolónia pensar em Petropavlovsk-Kamchatski
e suspirar por ficar no conforto das cidades onde há MacDonald’s. Para dentro
gritar livremente:
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– Que se lixe Lisboa! Que se lixe Petropavlovsk-Kamchatski!
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Em Petropavlovsk-Kamchatski também há MacDonald’s.
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