digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, abril 13, 2015

Pedir boleia e num camião fugir para onde

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Seria mais fácil se tocasse viola ou piano. Quem tange é tangedor e quem escreve. Escritor, tantos se julgam e desavaliando o peso da matéria, poeta é o oposto e ainda mais se pensando segurar a poesia, e ela de hélio.
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Quero ser poeta e não sujar, a pena fazendo-se peso, como o tempo do pai brincando com o filho.
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Tenho medo. Tenho o medo homoerótico dos homofóbicos. Tenho vergonha. Tenho a vergonha do miúdo de catorze anos a comprar pela primeira vez uma revista pornográfica.
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Um dia disse baixinho com a determinação arrojada e de medo do menino a declarar-se e ainda desconhecendo o sabor doutra boca. Uma professora, duas professoras, as professoras todas da escola viram o papelinho em que escrevi insonoro enquanto disse mais alto do que queria que a queria. Olharam-me muito firmes, descobrindo-me a infância e a vontade no sorriso aterrador e certamente gargalhando para dentro e contando a toda a gente.
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Que vergonha. Nunca mais sou grande. Para carregar a pedra do poeta e a mandar ao ar.
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Por que não sou pintor ou toco ferrinhos?
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As palavras adolescentes na boca do corpo gordo. As letras adolescendem-me e por isso a vergonha de ser pequenino e querer ser grande, para meter a língua noutra boca e a mão onde se quis tanto chegar para dizer: sou poeta.
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A estrada faz uma curva depois da estação de serviço e antes que me pensem, apanhar boleia para onde.

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