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Vai chegando o momento em que os cães negros aportam, na sua
migração anual. Matilhas que manjam e largam os enfermos, por vezes
abandonam-se de dor.
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Ouviram falar deles? Há rumores, porque estas matilhas são como o
Diabo medieval – que se fale pouco, não vá acordar-nos em sobressalto.
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Escondo-me num canto tão escuro, não ouso voltar-me, não vá
o brilhar denunciar-me.
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Se o quisesse não conseguiria. O ângulo recto enleia-se e
paralisa-me no desvario de fugir. Acontece sempre no Natal.
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A trepadeira do canto-negrum alimenta-se por alturas do Natal.
Não diverge muito da horda negra.
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Desfeitos, os sobreviventes recompõem-se até ao Verão,
quando as matilhas fazem a migração contrária. As trepadeiras do canto-negrum
florescem e frutificam.
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Mas nos outros dias, nos dias anónimos, também surgem cães
negros, atrasados na viagem e trepadeiras do canto-negrum ressuscitam e abraçam
fora do tempo.
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A dor da alma é chibo-velho – não se fale muito, pode
despertar.
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