digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sábado, dezembro 06, 2014

Tempo de paz, alegria e felicidade

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Vai chegando o momento em que os cães negros aportam, na sua migração anual. Matilhas que manjam e largam os enfermos, por vezes abandonam-se de dor.
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Ouviram falar deles? Há rumores, porque estas matilhas são como o Diabo medieval – que se fale pouco, não vá acordar-nos em sobressalto.
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Escondo-me num canto tão escuro, não ouso voltar-me, não vá o brilhar denunciar-me.
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Se o quisesse não conseguiria. O ângulo recto enleia-se e paralisa-me no desvario de fugir. Acontece sempre no Natal.
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A trepadeira do canto-negrum alimenta-se por alturas do Natal. Não diverge muito da horda negra.
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Desfeitos, os sobreviventes recompõem-se até ao Verão, quando as matilhas fazem a migração contrária. As trepadeiras do canto-negrum florescem e frutificam.
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Mas nos outros dias, nos dias anónimos, também surgem cães negros, atrasados na viagem e trepadeiras do canto-negrum ressuscitam e abraçam fora do tempo.
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A dor da alma é chibo-velho – não se fale muito, pode despertar.

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