.
Não escondo nada, nem o coração. Dum lado ao outro do tronco
há um tubo, quem espreitar verá que não vive lá um coração.
.
Não escondo nada, nem o fígado. As histórias que tem para
contar são meia dúzia, aventuras que na adolescência nos fazem muito grandes e
na maturidade nos iludem com uma vida que não conhecemos.
.
Não escondo as pernas nem disfarço a vontade de não as
mexer. Não escondo o falar, porque os olhos já contaram.
.
Não escondo os temores e as incertezas, é tanto o ruído que
fazem que só um surdo não escutará.
.
Não escondo nada, nem o pensamento. Se me tirarem a tampa do
crânio, como se fosse um chapéu, verão um brique-a-braque de banalidades e estupidez,
que tudo mostram e nada escondem.
.
Não escondo nada? Escondo alguém. Nu numa praça cheia,
suspiro e gritos.
Sem comentários:
Enviar um comentário