digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, novembro 27, 2014

O Alentejo todo deste mundo –

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Sempre ouvi dizer «o canto alentejano», «os cantares alentejanos», mas de há uns anos a esta parte que só me chega às orelhas «o cante alentejano».
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Não gosto de «cante alentejano»… é como dizer não «goste», em vez de não «gosto».
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Talvez seja um regionalismo e que alguém de reconhecido mérito e poder de influência tenha ateado e que agora é fogo descontrolado.
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É um bocado como a discussão bizantina acerca do doce típico «sericá» ou «sericaia». Sendo ambas muito comuns, digo que são as duas válidas. Contudo, há gente que não concorda e o manifeste categoricamente. Quase a meter medo.
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Uma vez disseram-me que era «sericá» – estava atento para saber a justificação –, os de Elvas é que dizem «sericaia», por causa do rio Caia, que passa no concelho, e também por causa do acrescento duma ameixa em conserva de açúcar.
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Em Elvas há muitos que dizem que é «sericaia», porque é iguaria natural do concelho – com ameixa. «E não se fala mais nisso»!
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Pois, seja «cante»… sou teimoso direito «canto».
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Hoje o canto alentejano foi reconhecido pela UNESCO como «Património Cultural Imaterial da Humanidade». Saúdo!
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Porém, tenho uma dúvida:
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– Os responsáveis da UNESCO tiveram conhecimento que há mulheres em grupos corais? Os grupos corais, aqueles cantados por homens abraçados e oscilando com vagar, são – ou deviam ser – só de homens.
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Não é uma questão de machismo, mas de tradição. Não há mal de lesa-majestade, mas não deixa de ser uma incorrecção ao costume que se quer preservar e valorizar.
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No Alentejo sempre se cantou muito. Os cantares das ceifeiras, das mondadeiras… basta(va) juntar duas alentejanas e começa(va) logo uma cantoria. Basta(va) juntar dois alentejanos e começa(va) logo uma cantoria.
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Cantava-se nas tabernas, bêbados… as mulheres ali não entravam. Por isso, com eles não cantavam. Cantavam nos tanques comuns a lavar a roupa e nos trabalhos de campo, certamente em casa, à lareira, vizinhas e amigas davam de sua graça.
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Fico muito feliz por o canto alentejano seja agora de todo o mundo. Espero que esteja nem incluído os cantares das mulheres e os cantares dos homens. Espero que se acabe com ou coros mistos.
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E agora, uns amigos da Córsega.
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