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Queria ser bela. Sinistramente bela. Hipocritamente bela. Mortalmente
bela.
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Queria ter a estupidez dos inteligentes, nunca me reconhecessem
préstimo.
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Queria conseguir falar muito, que me julgassem frívola,
disfarce de quem está calado.
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Queria ouvir sem ter de olhar e fingir engolir e fingir não
entender, sem ter de vomitar.
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A meio da vida só tenho estrada. Para trás não se volta e a
frente não é caminho.
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Pudesse mudar o tempo e pudesse acertar.
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Na dúvida, o que se abdica é mais luminoso.
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Queria ter coragem para ficar imóvel e que se a vida
quisesse que me mexesse que a empurrasse ela.
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Não sou dono do meu destino, se tiver destino.
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Queria ter medo do escuro e chamar pela mãe ou deitar a
cabeça no colo da avó.
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Para que serve a esperança quando o sonho não é de esperar?...
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Não tenho mais do que incertezas e dores na alma. Até as
lágrimas estão secas.
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Queria ser bela e saber vender-me. Calar-me quando falei,
calar-me quando não falei.
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Destinei-me não ter destino. Não sei se terei de esperar.
Não sei se saberei ter de esperar. Não gosto de esperar. Para trás não se volta
e para a frente não é caminho.
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Abri as pernas por amor, fecharam-me portas. Se não as
tivesse aberto?
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Puta triste, puta dorida, puta parida.
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Só me falta o absinto e o Toulouse-Latrec.
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