Quero ser um pleibói

Ando tão cansado que chego a pensar que trabalho.

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Trabalhar com prazer é trabalhar?

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Não quero ler comentários neo-realistas... a dignidade do trabalho e da nobreza de ganhar o pão com o nobre esforço campesino ou operário.

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O que me custa não é ganhar o pão... mas o luxo.

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Ser um pleibói, deslocar-me num Jaguar verde-garrafa ou no Aston Martin preto descapotável e um Bentley para de-vez-em-quando, qualquer cor, exceptuando o branco, lhe fica bem.

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Não é preciso ser-se rico para não se ter um carro branco! Ter um carro branco é como usar peúgas brancas com fato.

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Não quero nem Ferrari nem de Lamborghini. São espalhafatosos. São italianos e está tudo dito.

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Há bons carros alemães, franceses, italianos... mas um Bentley é um Bentley e um Rolls Royce agora é uma coisa horrorosa com a mesma falta de classe que um veículo da Coreia do Sul ou do Japão.

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Não quero um iate. Quero uma casa com uma piscina de vinte e cinco metros, para não ter desculpa para não fazer desporto nem ter de me deslocar às banheiras camarárias. O companheirismo é fixe, mas tem de ser cedo e cedo não me apetece.

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Não quero ser famoso, para me poder embebedar anonimamente. Quero ser rico para me vestir como o apetite.

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Quero viajar, mas só para países sem moscas... nem moscas nem congressistas e senadores que defendem lóbis das armas, de farmacêuticas, de petroquímicas... que são contra hospitais públicos e que os encargos com a saúde sejam pagos por quem tem seguros e os pobres que se fodam.

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Nova Iorque é diferente. Nova Iorque é a capital do mundo. Mesmo que tenha moscas e eleito congressistas e senadores corruptos.

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Gosto de ser europeu e quero ser rico.

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Mereço ser rico!

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A única coisa que não perdoo aos meus pais é não serem ricos, para que possa ter uma vida de rico.

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Trabalhar? Gosto. Gosto muito, mas preferia ser só rico. Bastava-me.