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Não consigo matar ninguém. Até a quem atirei à queima-roupa.
Sobre mim disparam e morro sempre um bocadinho. Não abandono a adolescência e
sou crédulo como um menino.
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Não digam nada contra mim, que quero lamentar-me, como a
pessoa mais infeliz do mundo.
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Digo-o eu como se fosse outro a falar:
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– Foste mau. Foste cruel. Foste sádico. Foste irreflectido.
Foste abusador. Foste egoísta. Foste arrogante. Foste cínico. Foste hipócrita.
Foste imbecil.
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Ainda sou?
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– ...
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Isso que me digo sobre mim como se fosse outra pessoa
mata-me de vergonha e arrependimento.
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Merdifico tudo.
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Não consigo matar ninguém. Pelo menos, partissem os demónios da memória e quem me dá apertos de tristeza.
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Quando me ignoram ou preterem, grifos bicam-me o coração, a cabeça e a alma, manjado vivo.
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