Por um artista colocada, não deitada, num divã. A luz que se
aquece nos tons do recolher dos pássaros.
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A três quartos sentado. Tapavas as vergonhas, deixando um
seio de fora. Querendo ter certezas:
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– A tua nudez. Brincando-me, fingindo-te distraída, nuvem de
passar sem mostrar o que.
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Querendo ver-te plena sem sair do encosto e acreditando no chega
para lá. Uma esperança de vem cá.
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As mulheres brincam melhor.
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No último instante de branco na luz, destapas-te e.
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A luz resplandecente das aparições das alturas das
divindades celestes. Tudo o que um adolescente quer ver.
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Em mim a vontade de partir e estar em simultâneo
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Em ti a felinitude das mulheres.
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O pé afasta.
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O joelho encolhe, a boca ganha um palmo.
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O pé tranca, a boca beija.
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As pernas abrem-se, e o peito levanta-se.
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Como resistir? Quente e macio, onde a boca se sacia na
pureza do branco.
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Um saciar que só o branco quente e macio do pão acabado de
sair do forno.
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O peito da ternura diabólica, que acolhe tudo. Tudo.
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Parto para baixo, onde se morre tantas vezes.
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As mãos, as costas. A voz. A palavra imperceptível.
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Uma luta, em que a dor é prazer.
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Num golpe estou sentado.
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Abusas de mim. Abusas de mim. Abusas de mim.
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Abusas de mim e deixas-me morrer em ti.
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Acreditando que morri morrendo contigo.
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Abusas mais um pouco de mim.
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Os suores, os odores, os beijos, que se querem, que se
recusam, que se impõem.
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Tudo. Tudo..
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Por tudo voltava àquele instante em que te olhava colocada num
divã.
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