digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Do escuro à claridade

O que é o escuro? Como vejo se sinto. Toco os seios e desço a mão, enquanto a outra sofre, por engano, sob o meu corpo, por deitado precipitado, quase adolescente.
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O escuro é descer a mão livre, acariciar em torno do umbigo, subir, descer, criar expectativa acerca da certeza. Descer, mas antes enganar.
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No escuro o beijo que vem antes de muitos. A boca adivinha caminhos e pára sempre nos sítios do leite e prolonga-se lenta e quente no ventre.
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Meia-luz, escuro, amanhecer, até as palavras aguentarem tanto quanto os corpos. Uma mão, travando a minha, rendeu-se e toco... seja gruta de musgo ou rocha aberta aos regatos.
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A boca volta à boca. A outra mão aceita o castigo de permanecer quieta. Terá um prémio, com certeza. Tocará as costas, afagará onde houver prazer a querer nascer.
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A boca beija e a mão faz-se onda. As tuas... boca e mãos... finalmente aceitam o que já tinham aceitado.
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A boca onde sou homem e os dedos ajudando a erguer o prazer.
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Engolido. Todo homem. Onde a mulher quiser, por quanto tempo quiser. Enquanto lhe der palavras de suor e calor.
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No escuro, o homem sabe onde fica a mulher. A mulher sabe sempre onde está. Fingindo-se presa caça.
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O tempo é o tempo e o escuro é o que deixa a persiana.
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Seja a noite toda ou mera visita... será sagrada.
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Sagrada como o pão. Sagrada como o vinho. Sagrada como o azeite.
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A Luz. A que vem e a que fica. A que se deixa entrar, e voltar.
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O homem quer ser um rio, bebe-o o quanto puder. A mulher é um império.
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O sono, fingimento da morte, acolhe-o. Nela, o pensamento é o triunfo da beleza, a luz manda no mundo.

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