digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, setembro 06, 2012

Meu Deus, o que fazer com estes vinhos? - ou Anima L8 e Cavalo Maluco 2009





















Arte e vinho são duas palavras que se casam. Tantas vezes se dizem que a verdade se esconde, tingindo a banalidade. Existe, e quando é salta aos sentidos e deixa na alma o inconfundível toque de Deus.
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Deus criou o homem, que criou o vinho. Deus tornou o vinho sagrado. Já o era, antes de Deus ser só um e se nomear apenas com o artigo definido no singular. O vinho celebra e evoca, atenua a dor e aviva a vitória, aquece a esperança, espelha a alma, a essência e o carácter.
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Perfeito é Deus, tudo o mais é procura e conquista. Estes dois vinhos são perfeitos; na dimensão do homem, dos seus momentos e suas contingências. São momentaneamente perfeitos, porque o vinho é uma arte do efémero. Como qualquer criação, são eternas as suas memórias escrita e falada.
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Gosto da tradição e da transgressão. Gosto que o sempre exista para sempre e que haja sempre quem queira inventar além do sempre, para sempre. Gosto dos artistas e dos oficiantes, gosto dos sábios e dos puros. Gosto dos académicos e dos iconoclastas. De todos, mas só dos verdadeiros.
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José Mota Capitão, enquanto produtor, pode ser isso e o seu oposto. Não privo, mas sei da verdade que transmite pelo olhar e palavras quando fala de vinho e dos seus vinhos. Como um criador, das artes ortodoxas, o vinho, a sua arte, é feito para si e não para o público. Percebe-se que faz os vinhos que quer e quer o que gosta.
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Repito e acrescento: Gosto dos académicos e dos iconoclastas. Mas só dos verdadeiros. A verdade dos vinhos de José Mota Capitão é o seu maior elogio e trunfo. A honestidade é um tesouro, mérito na vida e na arte.
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Mota Capitão não faz petit verdot porque está na moda, porque dá sainete, porque vende bem… pode isso tudo, mas faz petit verdot porque gosta de petit verdot. Cabernet sauvignon é outro gosto deste vigneron.
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Há umas semanas, a propósito duma reportagem para a revista Vida Rural sobre o cultivo de arroz, que também produz, provei as novas edições das suas mais procuradas criações: Anima e Cavalo Maluco, o L8 (2008) e o 2009, respectivamente. Face a colheitas anteriores, em alta, os dois vinhos.
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Dizia-me Mota Capitão que está a aproximar-se dos italianos, a deslindar cada vez mais tarde os seus sangiovese. O mais novo tem quatro anos e o vigneron já fala na hipótese de cinco anos para uma colheita próxima.
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A tesouraria empurra muitos vinhos para a rua ainda em criança, em vez de debutarem na mocidade. Ao ver as vinhas a evoluir com os anos, fica maior a vontade de fazer bem. Pois que os enófilos aguardem a revelação para a maioridade dum vinho.
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O Anima L8 está de se babar. Qualquer momento serve, é perfeito. O Cavalo Maluco é «um vinho muito bêbado», como definiu um amigo de Mota Capitão.
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O Anima L8 revela-se no nariz com café, especiarias (cravinho suave, pimenta branca ligeira), notas herbáceas, palha, terra, fumo ténue. Na boca é denso, tem uns taninos rugosos que enchem a boca, mas não a brutalizam, vê-se que será um senhor à mesa de quem o souber e conseguir guardar, tem potência e frescura, e um final levado da breca.
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É mais do que sabido que Mota Capitão queria ser índio quando era miúdo e brincava ao velho Oeste. Queria ser fora do todo, para ser diferente no todo e ser feliz, podendo livremente escolher o que queria e quem queria. Cavalo Maluco, o chefe sioux do povo Lacota… ilustre e magnífico. Que nome melhor para se transmitir numa obra?
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O Cavalo Maluco 2009… este é, esta edição, mais um que me deixa doido. O seu lote é composto por 60% de touriga franca, 30% de touriga nacional e 10% de petit verdot e é maravilhoso. Num primeiro embate um apetitoso e rústico azeite suave… deixado restabelecer-se do despejo no copo, o vinho assinala chocolate preto e fumo ligeiro. Adiante vêm aromas de amoras maduras, alguns tons herbáceos. O correr dos minutos confere-lhe anis, caramelo e azeitona. E já no fim, chocolate de leite e finura de café. Na boca tem potência e acidez, uns taninos de seda, e se tal se diz tantas vezes que, para se distinguir das outras, digo que esta veio pela Rota desde a China meridional. O final é longuíssimo.
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Nunca fiz sexo tântrico, mas consta que concede orgasmos longuíssimos. Este dá.
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Anima L8
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Origem: Vinho de Mesa
Produtor: Herdade do Portocarro
Nota: 9/10
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Cavalo Maluco 2009
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Origem: Regional Terras do Sado
Produtor: Herdade do Portocarro
Nota: 9,5/10
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Vinho, mesa, touriga-franca, arte, uma amiga, Vale Meão e Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria… interesses partilhados já descobertos. Um abraço JMC.

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