Levaste. Levaste-me. Levaste tudo à frente. Fui dispersado por onde a vista alcança.
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Longe, o coração parou de bater. Cansou-se. Luto pela morte de mais uma musa, pelo suicídio duma inspiração. Uma vez mais hiberna. Não chegou a voar até ao corpo do buraco no peito que pulsa por memória ou inércia.
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Como tudo aconteceu. Passo a explicar.
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Em casa quebrou-se um espelho. A vidraça da janela recusa-se a fazer-lhe a vez, molhada de choro. Por um tempo curto, o corpo e o buraco esperaram abraçar o coração, afinal manteve-se longe.
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Quebrou-se o espelho, os olhos não vêem o estado do amor-próprio, sabem apenas que dói. E basta.
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A casa despovoada continua quase desabitada. Não há monumento ou recordação ou milagre que tragam turistas, nem por uma noite.
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Na casa é sempre noite ou noite boreal. Escura como a cave carvoeira, silencia-se ainda no silêncio. Por vezes, as coisas murmuram… lembranças de alguém, desejos de alguém. Não se sabe, está escuro.
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Quebrou-se o espelho de queda matada. Derrubado pela ventania que penetrou a vidraça. Esperava-se a chegada da luz, chegou o vento da chuva. Devia ser dia, finalmente. Devia ser dia, sonhou-se. Afinal sempre foi noite.
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Esperei-te, não vieste. Esquecida, eu, a casa, as coisas recebemos a tempestade da tua ausência. Sem uma lágrima, apenas espanto e tristeza.
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Parecia de luz de paz e Sol. Imaginação de palavras e pele de se tocar. Nunca as palavras prometeram… mas parecia de luz e vontade.
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O vento levou-me para me dispersar por toda a parte. Só o coração tem lugar certo. O magnetismo da imagem impressa na alma reunirá os despojos. As palavras regressam às mãos que as escreveram.
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A vida mantém-se alimentada pela batida por inércia do buraco. Tudo como sempre. A monotonia voltou.
digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.
sábado, maio 21, 2011
A tempestade
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