
Faltam poucos minutos para que o gume me atravesse as veias dos pulsos. Tenho tempo para escrever a banal carta de despedida. Não aguento uma má notícia sem me matar.
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Em alternativa há o estômago… o fígado talvez seja melhor, mas não sei se o consigo encontrar. Para o coração, melhor uma bala. Numa brincadeira, os pulmões para não ter um último suspiro.
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Quero cair só de cabeça. Bater na pedra ou no fim do precipício. Cair sem voltar para trás.
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Doem-me os cornos por me saber separado depois da separação. Rejeitado depois de tantos anos de ausência. Emprenhado e demorado, muito mais que os nove meses. Abandonado na condição de mãe. Só e a parir toda a merda que disse, fiz e vi.
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Não falta quase nada. Quanto tempo durará o escarlate? E o jorro, até onde chegará? Quero cair de joelhos ou afundar-me numa banheira. Ficar com os olhos abertos, para ver a morte chegar.
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Não falta quase nada. Só o tempo de não acreditar.
1 comentário:
Esta imagem é lindíssima e os teus textos estão especialmente belos.
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