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Esta notícia faz-me lembrar o azul profundo duma solidão. O momento preciso do desprendimento. O espírito desagarrado do corpo. A morte, se assim se quiser.
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Não há tempo para palavras tristes. Não é preciso ter-se um coração para que este se sinta apertado e minguado. Rezando para que os pés não doam demasiado pelo caminho.
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Se a tristeza não se vai, que nos apartemos nós dela. Abandoná-la onde faz sofrer. Poça de sangue que mais ninguém vê.
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Quando estocas e feres, é o teu sangue que se derrama. Quando matas, morres. Morres-te devagar, aos bocadinhos, com o peso de toda a memória. Ainda que a consciência te alivie. Delinquente inocente.
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Os homens grandes não precisam de monumentos. A verdade é toda e toda exige que se o diga: todos os homens nascem iguais. Preciso de palavras de circunstância no meu velório.
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Os homens grandes não precisam de monumentos. Desejo, em ânsia, os aplausos, as intimidades gloriosas e um tocante discurso de abalada.
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No fim de tudo, só o amor primeiro e o amor maior. Todos os outros não são bem coisa alguma. Inspiração e desejo. O que fica?
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Cuidava que os poetas podiam matar as musas e renasciam fortalecidos no desgosto de não falecerem por elas. Que viviam felizes ou infelizes. Que viviam.
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Cuidava que a musa nunca mataria. Com o feitiço suficiente para o cantor se cortar, desperdiçando-se em letras rubras de odor férreo. Por suicídio ou surpresa por se saber morrer, com um sopro da musa.
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Desamando, ela, com um pranto. Pode viver-se sem um coração, mas não com uma consciência leve. Não com um manto de veludo negro na memória.
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Baixada a cortina sobre o amor prometido em sacrifício de viver infeliz. Tragédia sanguinária em que todos morrem. Quendera uma cova para repousar o corpo. Todos os amores acabam mal, está na lei moderna. Até os que nunca começaram. Está na lei suprema.
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A notícia faz-me lembrar o azul profundo duma solidão. A vida recomeça adiante.
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