digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, maio 23, 2010

Capacidade de amar

Sei que vai parecer estúpido ou inteligente, em sentido literal. Parecer burlesco ou deprimente, quando deduzido. Lamechas ou arrogante, conforme se quiser. Piroso ou tocante… Mas vou escrever à mesma.
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Gosto de pessoas. Como poderia não gostar de pessoas? Paternalismo? Soberba? Um afecto que me esburaca por dentro quando me comovo. Comovo-me com facilidade. Dizia-me uma namorada que eu sou uma mimosa, forma mais imaginativa de flor de estufa. Não sou sentimentalão, sou sensível.
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Estava eu no Facebook e vi uma fotografia, de alguém que não conheço, e senti vontade de conhecer. Porque me pareceu ser bom homem. Porque atrás daquela fotografia tem quem o ame. Quem não o ame. Tem sonhos e tristezas. Alegrias e enganos. Já foi mais novo e não se sabe até quantos chegará.
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Gosto tanto da espécie humana como, às vezes, a odeio e mostro profundo desprezo. Mas amo. Porque não se pode viver sem amar: as pessoas, os animais, a vida, as flores, as grandes árvores… tudo pode ser amado. Digo que amo tudo, até o que não amo. Esquizofrénico, ambidestro mental.
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Odeio o mal que há nas pessoas. Repudio a mesquinhez, a soberba, a falta de princípios, a boçalidade… mas não deixo de gostar das pessoas. É amor e não paixão. Não é um amor grande como o de Cristo. Mas é amor.
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Tenho amor ao mesmo tempo que tenho desavenças, intrigas, sofrimento, pânico, depressão, cinismo, hipocrisia, mentira, premonição, predefinição, preconceito, interesseirismo. Tenho essas coisas todas e mais outras que não me ocorrem.
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Gosto das pessoas. A velhice dá-me ternura, apesar de saber que um velho não é sinónimo de boa pessoa. Gosto da maternidade. Gosto da paternidade. Gosto da irmandade. Gosto da amizade. Alegro-me com os sorrisos, mesmo quando estou triste e, até mesmo, com lágrimas. Revolto-me com muitas coisas, mas quase nunca ajo… muitas vezes para, depois, não me comover mais. A infância dá-me ternura, pelos olhares do progenitores, familiares, amigos e todas esperanças, embora saiba que muitas criancinhas serão, um dia, filhos da puta.
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Não há amizade interesseira. Ou há amizade ou não há amizade. Pode haver traição, acabando ou fazendo perigar a amizade… mas interesseirismo não combina com amizade, são antónimos.
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Tenho medo da doença. Afligem-me os doentes, enterneço-me com a morte. Não uso luto. Razão provável da minha dificuldade em fazer o luto dos amores passados e da amizade que deixou de o ser. Quero amar toda a gente, ser amigo de todos… acredito que é possível. Sou mortal e pecador, longe da angelitude, longíssimo de Cristo… a muitas eternidades de Deus.
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Amo todas as minhas ex-namoradas. Não deixo de amar nenhuma. Estão todas arrumadas na sua gaveta. Como estão os amigos. Quando as recordo sinto todos os bons momentos que tivemos e aí volto a ama-las. Depois distraio-me com qualquer coisa e volto a não amar ninguém.
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Também amo os animais, a comida que me alimenta e o vinho que me alegra. Há o amor maior de todos que é o da mãe… que é tão grande quanto o de sua mãe, porque era mãe da mãe. De lá para cá, há a reciprocidade da parentela. De lá para cá há o amor de Cristo que é maior do que o dos homens, que ama mais do que o amamos. Há ainda o amor de Deus, que é maior que o amor maior de todos.
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Ainda não estou em momento em que pense na minha salvação. Deixo que outros sejam anjos e conformo-me com a minha mundanidade, com o tamanho pequenino da minha alma. Preocupo-me ainda mais com o corpo do que com a alma. Mas amo, já sou capaz de amar e amo muito, amo muitos e quero amar mais.

1 comentário:

A ilha dentro de mim disse...

Há quem lhe chame dom. Aproveita-o bem, porque é raroa amigo. :))