Ao todo? São muitos. Os mesmos que a minha mãe tinha quando me teve.
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A beber passas, marmelo caramelizado, frutos secos. Consta que é madeira e imagino mogno. Talvez seja madeira. Madeira, mesmo.
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Ainda agora era anteontem. Ainda anteontem era ontem. Ainda ontem era há vinte anos. Ainda era feliz. Já era adulto e ainda era feliz. Tinha dez anos, tinha a vida toda. Pela frente, lados e já atrás. Dez anos, só mais seis do que quando tinha quadro e me tiraram aquelas fotografias em Évora, no Templo de Diana, que, afinal, não é de Diana. Só mais dois do que em Sevilha, montado numa burra de pelúcia, ou de coisa assim, quiçá verdadeira.
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Ao todo? Muitos! Ainda me lembro. Ainda quero desistir. Ainda quero viver. Já quero morrer. Morrer novo. Para não sofrer. Para não viver. Tudo o que a vida me quer dar e tudo o que não quero da vida.
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No Estoril com a mãe. Algures com o pai e a mãe. A mãe ausente, a trabalhar. O pai a trabalhar e ausente. A carrinha para a escola e a avó. O autocarro para a escola e ninguém para o almoço. A penantes para a escola e volta sem ninguém para o almoço. A ida e o regresso tardio da escola. A escola e o trabalho. O trabalho. O trabalho e a escola. Quase uma vida, só metade.
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O grande amor. O grande amor. O grande amor. O grande amor. Tudo e pouco mais do que o grande amor. Até ao dia da imensa solidão. A traição breve, o arrependimento e a confissão. O recomeço e a dor, além da minha. Tão pungente. Depois a ida do grande amor, a tristeza. A tristeza e a doença e a loucura e a doença e a loucura e o tédio e o desanimo e a apatia e o fim quase no fim. Os amores falhados.
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Se fosse um rio seria um rio banal a correr entre pedras e não o estuário de desaguar. Sobressalto e espuma breve e límpida, sem esconder o que a água pode afogar.
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Já são tantos anos e ainda a promessa de tanta a vida para nascer. Nascer é viver. E tanta vida que se pode dar. Vida para aspirar. Mas o tédio e a apatia… este ano não vieram, mas são presentes a cada dia, como fantasmas à espreita.
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São muitos dias. Um dia, quiçá, direi o mesmo do dobro.
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A beber passas, marmelo caramelizado, frutos secos. Consta que é madeira e imagino mogno. Talvez seja madeira. Madeira, mesmo.
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Ainda agora era anteontem. Ainda anteontem era ontem. Ainda ontem era há vinte anos. Ainda era feliz. Já era adulto e ainda era feliz. Tinha dez anos, tinha a vida toda. Pela frente, lados e já atrás. Dez anos, só mais seis do que quando tinha quadro e me tiraram aquelas fotografias em Évora, no Templo de Diana, que, afinal, não é de Diana. Só mais dois do que em Sevilha, montado numa burra de pelúcia, ou de coisa assim, quiçá verdadeira.
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Ao todo? Muitos! Ainda me lembro. Ainda quero desistir. Ainda quero viver. Já quero morrer. Morrer novo. Para não sofrer. Para não viver. Tudo o que a vida me quer dar e tudo o que não quero da vida.
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No Estoril com a mãe. Algures com o pai e a mãe. A mãe ausente, a trabalhar. O pai a trabalhar e ausente. A carrinha para a escola e a avó. O autocarro para a escola e ninguém para o almoço. A penantes para a escola e volta sem ninguém para o almoço. A ida e o regresso tardio da escola. A escola e o trabalho. O trabalho. O trabalho e a escola. Quase uma vida, só metade.
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O grande amor. O grande amor. O grande amor. O grande amor. Tudo e pouco mais do que o grande amor. Até ao dia da imensa solidão. A traição breve, o arrependimento e a confissão. O recomeço e a dor, além da minha. Tão pungente. Depois a ida do grande amor, a tristeza. A tristeza e a doença e a loucura e a doença e a loucura e o tédio e o desanimo e a apatia e o fim quase no fim. Os amores falhados.
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Se fosse um rio seria um rio banal a correr entre pedras e não o estuário de desaguar. Sobressalto e espuma breve e límpida, sem esconder o que a água pode afogar.
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Já são tantos anos e ainda a promessa de tanta a vida para nascer. Nascer é viver. E tanta vida que se pode dar. Vida para aspirar. Mas o tédio e a apatia… este ano não vieram, mas são presentes a cada dia, como fantasmas à espreita.
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São muitos dias. Um dia, quiçá, direi o mesmo do dobro.
8 comentários:
Fabuloso...arrepiei-me a ler-te. És um homem incrivel, adoro ser tua amiga há 20anos e quero mais 20, se faz favor...Um beijo Gi
João,
Bem vindo ao "prime time" (40-50).
Abr,
mgm
Parabéns João...
pelo aniversário e por este fabuloso texto.
Até breve.
Zé
Cumpleaños feliz, cumpleaños feliz...!
Um abraço intenso desde Barcelona!
Um bocadinho de Manif de parabéns!Idéias simples quase chocantes por causa da verdade.
Que sou contente de ter.te como amigo pelas razões certas e não por "fazeres parte" já que nos conhecemos há tantos anos..
Que é um valor real de com 40 anos seres um legítimo tu =) sem medos e sem máscaras.. estás no caminho do homem sábio meu querido, nas cercanias de ti. As camadas são para quem é indiferente à distância da essência. E andamos tantos nisso.. Ser um velho de merda ou ser um velho sábio? Eis a identificação para novamente fazer abrir o pano ... Mas ainda assim fica a frase-legado; A centelha não é macambúzia. Não pode. Vai presa! Teremos que honrar a experiência da existência. É a missão do cheio. E que maravilha é termos amigos a preencher as dimensões bonitas da vida. Porque podem, porque sentem , porque pensam. Um abraço grande de várias Forças já que a Honra não é questão. Tuquinhas
Os homens se assemelham aos vinhos: a idade estraga os maus e melhora os bons.
(Marie von Ebner-Eschenbach)
Parabéns, meu grande amigo barbie. VR
Parabéns Joãozinho, pelo aniversário e pelo belíssimo texto. E lembra-te sempre que, tal como escrevi em tempos naqueles meus versos sobre o espelho, "décadas são apenas folhas caídas do calendário colado na porta do frigorífico". Abraço amigo!
demoro... mas para textos destes nunca é tarde.
parabéns, João. bom ano. :)*
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