digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, dezembro 31, 2009

Natalidade

Neste pequeno silêncio, neste espaço em que as palavras são apenas pensamento, neste compasso de in-movimento do olhar e serenitude da respiração, nesta vontade de não vontade, há uma mágoa de saudade.
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A saudade é uma ferida da memória. Na saudade cabem os mimos da mãe, a paciência das avós, os passeios com o pai, o jardim das pirâmides de Faro, o odor do mar na linha do Estoril.
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É outra vez Natal. Mais um feito de pouca coisa. Não de coisas, mas de qualquer coisa. É nova caminhada no silêncio de ruas vagas, entre caixotes do lixo por vagar os papéis bonitos, os laços e os plásticos.
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Na manhã de Natal não há ninguém, felizmente. Tenho uma cidade só minha. As minhas dores têm mais espaço para se largarem e algumas, tenho esperança, voem e não voltem, como se fossem rolas.
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Sempre que se acaba o Natal digo:
- Daqui a nada estamos outra vez no Natal.
E assim é. O Natal não é como o ano novo. O Natal é um tempo velho. O ano novo é um caderno de folhas para escrever. Entre uma e outra data há dias seis dias sem qualquer sentido nem utilidade.
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Fossem sempre assim os dias: sem sentido nem utilidade. Seriamos todos mais livres.

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