digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, novembro 04, 2009

O dia dos amigos

Saí de casa para almoçar com o meu amigo José Eduardo, que fez o favor de chegar atrasado. E apareceu duplamente tarde, porque por volta da hora combinada mandou uma mensagem a dizer que não tardaria, coisa de dez minutos, o que não se verificou. É já um hábito ou mesmo uma tradição. Por vezes tenho a ideia de que sou o único português que chega a horas aos locais de encontro.
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Bem, saí de casa para almoçar com o meu amigo José Eduardo, que me bombardeou com perguntas inquisitoriais. O bom homem estava de todo. Belíssimo almoço num restaurante sem pretensões ou rasgos. Não faz mal, porque valeu bem a companhia. E depois, os almoços não exigem tanto quanto os jantares, pode conceder-se-lhes a extravagância de ficar abaixo do meio da tabela. Um almoço é apenas um almoço. Pobre corpo se assim não fosse, vítima das calorias.
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Uma vez que, praticamente, não faço nenhum, fui, de seguida, ter com as amigas Mafalda e Patrícia. Horas á conversa. Mais uma vez fui vítima dos gozos das duas irmãs, que tão bem me tratam.
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Já em casa, e antes de me pôr a fazer o jantar, sentei-me no sofá vermelho, onde as minhas gatas gostam de aparar as garras, e relembrei os poemas do amigo Alexandre sarrazola. O livro chama-se «Thaumatrope» e foi editado pela Averno, uma editora pequenina que publica preciosidades em edições muito limitadas. A porta da varanda estava aberta e notei uma ímpar quietude da rua ao mesmo tempo que os olhos tocavam num poema. Diz assim o Sarrazola: «é o único ruído exterior / agora / agora que (por dentro) já não ouço as vozes». Nem vozes nem barulho do exterior. Levou quase uma eternidade, um minuto, a voltar o burburinho das vidas atarefadas.
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Chegou o tempo de fazer o jantar e de pensa na amiga Colher e na sua filha Catarina. Macarrão do bom (italiano) acompanhado por molho-conduto feito de alho, cebola, sal (é claro), tomate, linguiça de porco preto migada e pasta de cogumelos silvestres.
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Para a mesa veio também Palácio da Bacalhôa de 2003. É um tinto elegante e muito aveludado, com notas verdes (bastante pimento) e fruta. Faz-se de merlot e cabernet sauvignon. É afrancesado. Ali ficámos à conversa com o vinho até depois da hora da miúda ter de se deitar.

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