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Às voltas na cama, tento voltar o tempo. Intuo as voltas dos ponteiros, peço a Deus que andem depressa e esqueço-me que o relógio é digital. Oiço, lá fora, os sons a passar, prova inequívoca de tempo. Vivo um sobressalto, de que não passe e de que passe demasiado depressa. Tudo foi ontem: a infância, a escola, a avó, o liceu, a namorada, a outra namorada, as outras namoradas, a faculdade, o trabalho, a promessa, a namorada, uma outra promessa, a casa, a outra casa, a dor grande, a esperança, a dor maior, o desalento, a dor de novo, o desalento e a perdição, a dor da traição, as gatas e o dia de ontem. A vida toda num tempo e a certeza que ainda há mais dias para vir, e a certeza que ainda há dores grandes à espera. Sem saber o que fazer com o tempo, sabendo que o que vai não volta e que um dia lamentarei este que já lamento.
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