digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, setembro 30, 2009

Nada como Janeiro

Nada como Janeiro! Nem o tempo, nem o tempo, nem a luz, nem a paciência. Nada!
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O tempo é de chuva, de chuva… de água, frio, vento, nostalgia, constrangimento, vontade de aconchego, de amores antigos… talvez de reencontros ou duma loucura tão insana que parece Primavera, mas que há-de ser para a vida toda… ou toda como se imagina toda… ou toda aquela que se pensa quando não se pensa em toda.
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O tempo é dos vagares todos, com toda a lentidão que exigem os dias curtos e as noites longas. Os dias duram menos, as noites de dormir duram o mesmo. Sobram mais horas entre o dia e o tempo de dormir.
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A luz é do princípio do mundo, aquela com que nasci, faça sol ou chuva, frio ou calor. A luz é o princípio do mundo, é aquilo que veio depois do nada, depois do escuro, depois da ignorância.
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A paciência vem com o tempo. Depois dos frenesins do Verão, das palpitações da Primavera e dos devaneios outonais… A paciência chega quando o Outono chega à vida, mas só desperta verdadeiramente quando é Inverno. A paciência é um ganho do tempo.
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Que ganho com isso? Nada! Perco quase tudo, como todos nós. Restam-me consolações e ficam-se os desejos por fruir. O frio de Janeiro ajuda a aguentar a vida, porque, numa ilusão compreensível, temos todos a mesma idade… ou vulnerabilidade bastante e suficiente.
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Janeiro começa no Natal, uns dias antes, ainda antes de ser Inverno, e acaba pouco tempo depois da quinzena do primeiro. Só existe quando o frio é mais frio e o escuro mais escuro. Janeiro é o Inverno do Inverno. Dezembro, que é frio e chuvoso, é o Inverno do Outono, e Fevereiro, que às vezes é gelado, é o Inverno da Primavera. Já o Verão não tem Inverno, uma chatice… tem apenas dias chatos de Primavera.
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O Verão devia morrer por decreto. Chegando ao dia tal não haveria mais calor nem estupidez. O Verão tem de ser sempre festa e quando acaba a festa começa a vida. Já o Inverno é diferente. Se um é infância ou outro é esplendor. Pode vir devagar, mas vir. Até ao último suspiro, seja de dor ou de alegria.
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Mas ninguém morre em Inverno. Morre-se a caminho do Inverno ou na viagem para a Primavera. Está demasiado frio para se morrer no Inverno, quero dizer, em Janeiro. Janeiro é tempo da luz única, que começa um pouco antes do Natal.
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Se há calor em Janeiro, não falta nada no Natal, ou desculpam-se as falhas, se as houve. Nasci em Janeiro. Gostava de morrer antes de lá chegar. Morrer depois deixar-me-ia um sabor infeliz na vida.

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