digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Leito de pecado

Ontem, quando entrava em casa, cheirou-me a salsa. Não tinha salsa em casa nem cozinhara recentemente. Percebi que era um sinal. Um sinal duma força ou ser qualquer a alertar-me para uma coisa qualquer, ou especial. Deve ter dias.
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Feliz pelo odor da salsa, espojei-me na cama a pensar num tinto com idade, não muita, onde floresce-se o aroma da erva. Levado pelo desejo, deixei-me afastar da realidade, como um barco desamarrado se vai pela corrente.
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Espojado na cama pensei nas coisas que nelas se podem fazer. Se é, por excelência e facilidade, a sede do amor, também o é da luxúria. Mas é também do descanso e da preguiça. Duas acções benevolentes, duas tentações, dois pecados.
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Se a cama guarda dois pecados, o divã guarda três. Pois, além da luxúria e da preguiça soma o da gula. Quem não comeu já, refastelado, num canapé, num leito dum só corpo, propício ao egoísmo, à preguiça, à soma de sois corpos? O prazer da mesa é, tantas vezes, superior quando se estende, deitado à mesa, com o corpo coberto dos resíduos da satisfação. O divã é talvez o objecto mais pecaminoso. Não pensei mais nisso, porque me satisfaz a ideia de que o seja.
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Dos delírios hedonistas fui voar, para o reino mágico dos sonhos. Acordei hoje, há bocado, frustrado por ter acordado e insatisfeito por ter a mesma vida. Quendera voltasse o aroma da salsa.

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