digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, julho 26, 2009

Fazer chorar as pedras da calçada


Não me apetece música com refrão. Nem dias de Sol sem praia. Nem namoradas invisíveis. Nem amigas coloridas. Nem amigas imaginárias.
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Deixei os meus dias na década de oitenta. Perdi a inocência na década de noventa. Perdi as ilusões na primeira década do século. Serei absolutamente adulto na segunda decúria. Sem saber o que fazer da vida. Como todos, sem saber da vida.
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Já não vou a festas na praia nem tenho convites para todas as celebrações da cidade. Perdi uma fortuna em coisas sem sentido. Estou na recta para um infinito, retroceder não é opção e a esperança uma ausência. Um rádio mudo no oceano.
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Tenho a cabeça onde a deixei há uma década. Tenho inveja dos anos antes e nostalgia pela adolescência. Sem senhora nem escrava ou parceira.
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Não me apetece música com refrão e já não se usa sem. No Verão sem praia, sem futuro na cidade e sem vontade.
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Mais uns meses e terei a idade sem retorno para ser adulto pelo padrão moderno. Há muito que poderia ser pai. Mas a vida. Mas a vida. E até agora para chegar à maturidade. Toda esta vida. Uma vida de refrões. De lugares-comuns. De objectivos. De fracassos. O zero quase absoluto. Nem no zero!

3 comentários:

v disse...

Texto bonito. Sentido. Creio. Eu senti. Não digo mais nada.

João Barbosa disse...

Obrigado :-)

Incógnita disse...

Sempre que vejo uma pedra da calçada a chorar, contorno-a. É que, desajeitada como sou, se não o faço acabo inevitavelmente por cair.