digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

O sentido de vergonha de António Costa

Bom dia, esta é um texto que, provavelmente, nunca será lido pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Não faz mal, é apenas um grito dum cidadão alfacinha. Ouvi, há coisa duma semana, António Costa dizer que era urgente tratar e canalizar as águas do esgoto, de cem mil habitantes, que actualmente vão para o Tejo sem qualquer tratamento. O edil disse ainda que era uma vergonha não se terem feito durante os dez anos que o Terreiro do Paço esteve em obras.
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António Costa tem razão. Tem toda a razão. Só que esta sua apreciação só merece dezasseis valores, porque faltou-lhe um bocadinho assim, como o Danoninho. E esse pedacinho assim corresponde à equidistância que deveria ter, à omissão da atribuição de responsabilidades e ao partidarismo que não lhe permite acusar o seu próprio partido.
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É verdade que é absolutamente necessário tratar as águas residuais que vão para o Tejo. É urgente depoluir o rio. Ninguém contesta a precisão de renovar as condutas de água.
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É inquestionável que é uma vergonha aquela zona de Lisboa estivesse dez anos em estaleiro sem que ninguém na Câmara de Lisboa se tivesse lembrado desta necessidade e obras, e tivesse decidido mandá-las avançar.
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Onde falha António Costa? Na assumpção que foram os socialistas os maiores responsáveis pela situação. É que nos últimos vinte anos, os socialistas estiveram à frente da edilidade durante 15 anos. Se se contar apenas com início do projecto do túnel do Metro de Lisboa para o Terreiro do Paço, que foi 1993, o PS não fica melhor no retrato, pois esteve no poder mais de dez anos.
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Não quero entrar por campos que agora pouco vêm a propósito, mas que bem ilustram a gestão socialista, que contou muitos anos com a parceria dos comunistas. Será que ninguém se lembra da inércia de Jorge Sampaio, que produziu muitas ideias e não fez nada? Será que ninguém se lembra da política discricionária de João Soares, que não teve ideias, mas sempre fez alguma obra?
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Pois esta coisa das obras no Terreiro do Paço tem ligações com a parelha de Bucha e Estica socialistas. É que o incapaz Sampaio deixou ideias e arrogante Soares foi buscar algumas. Um facto que, consta, desagradou muito ao, então, presidente da República. Assim, Jorge Sampaio terá solicitado ao seu mainato, fiel seguidor no grupelho dos socialistas, que ocupava a pasta das Obras Públicas que travasse o filho do Bochechas.
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João Soares foi à gaveta de Sampaio e de lá tirou o projecto dum túnel rodoviário entre o Campo das Cebolas e o Corpo Santo. Vinha mesmo a calhar, pois estavam para breve as obras do Metropolitano de Lisboa. Tinha lógica. Contudo, o anterior edil não terá gostado e mandou João Cravinho fazer uma contra-proposta, por forma a tirar o protagonismo ao autarca. A ideia era a de aumentar o túnel rodoviário, ligando Santa Apolónia à 24 de Julho junto ao Cais do Sodré... e a Câmara ainda iria gastar menos do que no modelo anterior.
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A coisa foi aceite. Iriam aproveitar-se as tuneladoras das obras do Metro de Lisboa, quando as primeiras vias estivessem feitas, para furar o solo. Toda a lógica. Não esquecer, que o projecto do Metro data de 1993, com data de conclusão prevista para 1997, a tempo de servir os cidadãos na Expo'98. Garantiam autarcas e governantes que as vias ferroviária e rodoviária estariam prontas a horas.
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Como quase tudo neste país, as obras que deveriam ter arrancado cedo para estarem finalizadas em 1997 só arrancaram nesse preciso ano. Ainda houve quem dissesse que ainda era possível concluí-las a tempo da Expo'98. Paciência, não se conseguiu.
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A segunda previsão para o fim das obras do Metro de Lisboa passou para 2001. Mas, entretanto, deu-se a derrocada e alagamento do estaleiro em 2000, o que atirou o prazo mais para a frente. Disso ninguém tem culpa e, provavelmente, aconteceria se os trabalhos tivessem começado noutro ano. As projecções para a inauguração foram divagando, para 2004, 2005, 2006, 2007... sim, foi em 2007, na pontinha, quase a cair para 2008, já depois de meados de Dezembro.
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Este tempo todo foi quase sempre dominado pelos socialistas na Câmara de Lisboa. Os socialistas lembraram-se dum túnel rodoviário, mas nunca do saneamento e tratamento das águas residuais que vão para o Tejo. No fim, corolário de tanta atenção e competência, o túnel do Metro abriu e o rodoviário nem sequer começou.
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Então, senhor António Costa, é ou não vergonhosa a herança socialista em Lisboa, ou, pelo menos, no que ao Terreiro do Paço diz respeito?! Para mim está visto quem tem razões para se envergonhar... e não apenas por causa da mais bela praça da cidade.
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Nota: Até me assusto com a hipótese de Pedro Santana Lopes vir a ganhar as eleições autárquicas em Lisboa, mas temo que António Costa continue a incompetência dos anteriores socialistas. Até agora, quase tudo bem.

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