digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, outubro 04, 2007

A musa

Tenho uma musa. Com esta minha idade, já pouco a vejo, mas à noite encontro-a quase sempre. Ainda que esteja morta, a sua ideia vive em mim, ora dourada ora enegrecida. A minha musa faz-se de memórias e de projecções de desejo, muito carinho e igual dose de incompreensão.
Sou mortal na carne e imortal no espírito, tal como ela - flor vermelha e tocha incandescente. Se o meu corpo, mesmo que morto, possa deixar uma impressão de sua vida, mesmo que apenas na mortalha, deixará também a imagem da musa, que sem ela não seria quem sou.
Todos os dias espero um sinal e todos os dias os recebo. Todos os dias escrevo, e quando não escrevo ela não deixa de me ditar. Se não for de dia, é à noite. Nada do que escrevo é só meu e revelo agora a parceria para que nunca se diga que sou uma fraude.
Tenho uma musa, tenho sim senhores! Com esta minha idade já não a vejo. Encontro-me quase sempre com ela, e, quando não acontece, dita-me ela as palavras à distância. Seja bonita ou deselegante, a mim serve-me bem.

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