
O passado vive. O passado é presente. Ainda há dias desses que acabaram. Não servem as promessas feitas antes. Não valem as promessas feitas depois. Não valem as promessas feitas agora. Nenhum dos dois pode prometer, nem o outro acreditar.
O passado vive nela. O passado vive nele. Sem presente para conjugar, fecham os olhos para não enfrentar o futuro. Um futuro qualquer. Nenhum dos dois pode prometer, nem o outro acreditar.
Acontece tudo nas viagens noturnas. O presente só acontece depois dos corpos se deitarem e deles o espírito se libertar. No espaço sideral vê-se o futuro. Acordados não vêem. Acordada está a dor.
Quem dera aos dois que um não vivesse o outro. Que a memória não corroesse tudo o que existe depois do passado. Nos dois vive nostalgia ácida e saudades escondidas. Só à noite, quando os corpos adormecem, há encontros como os dantes. Acontece tudo à noite. Há mais memória, à noite. Há mais do que memória, à noite.
A separação une-os. A tristeza une-os. A solidão une-os. A nostalgia une-os. A vida separa-os. A infidelidade maior. A infidelidade maior é a fidelidade ao passado. A infidelidade maior contraria a verdade.
O que quer que seja a verdade. Não se fazem mais promessas. Não se acredita. Não se ouve. Só há silêncio e a infidelidade maior.
Quem dera a ele qualquer outra coisa. Quem dera a ela qualquer outra coisa. Que ele não vivesse com ela em separado. Que ela não vivesse com ele em separado. Que não houvesse passado. O que quer que seja a verdade, não se fazem promessas.
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1 comentário:
Não se espera que as promessas sejam cumpridas. Acostumou-se com a infidelidade, "a infidelidade do presente, a fidelidade ao passado". Grande João. Não há outono maior do que esse. Não há tristeza maior em esperar que o passado volte.
beijo
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